terça-feira, 11 de outubro de 2011

História de Guimarães e imagem de 1860 do antigo brasão


História de Guimarães e imagem de 1860 do antigo brasão


A CIDADE DE GUIMARÃES

Se dermos credito aos  nossos antiquários, a  origem de Guimarães  quase que se perde na  escuridão dos tempos.  Alguns dão-lhe por  fundadores os galos  celtas e como se isto não  bastasse para sua nobreza, ainda há quem  lhe atribua um principio  mais remoto. Deixando  porém estas noticias  meio fabulosas e  destituídas de bons  fundamentos, diremos  contudo que a sua  primeira fundação é  anterior alguns séculos á  monarquia e que teve por  assento a pequena  eminencia vizinha, onde  vemos o castelo.


Começou a actual  povoação junto a um  mosteiro, que a condessa  Mumadona, tia de D.  Ramiro II, rei de Leão,  edificou em o ano de 927.  Apenas concluída a  fabrica do mosteiro, que  em relação ao tempo era  uma obra grandiosa, no  qual se acomodaram  monges e freiras, vivendo  com bastante largueza, pelas avultadas doações  que a fundadora lhes  fizera, foram-se  construindo em torno do  convento algumas casas  para habitação de  pessoas dependentes  dele. Cresceram pouco a  pouco estas edificações,  mudando-se para este  sitio os moradores da  antiga vila Vimaranense,  que assim veio a despovoar-se e a  arruinar- se de todo,  restando hoje poucos  vestígios dela.

Para defesa do mosteiro,  aonde Mumadona se  recolhera, depois de  viúva e do burgo, que já  contava bom numero de  habitantes, mandou a  condessa fundar, a pouca  distancia do mosteiro, no  sitio em que outrora se  erguia a vila velha, um  forte castelo, cercado de  altas muralhas e  flanqueado de sete torres.


Neste venerando castelo,  que ainda se levanta  majestosamente sobre  trono de rochedos, veio  no fim do século seguinte  assentar a sua corte, D.  Henrique de Borgonha,  conde de Portugal, pelo  seu casamento com D.  Tareja, filha de D. Afonso  VI, rei de Leão e de  Castela.

Aí dentro do recinto  dessas toscas muralhas,  que seriam hoje estreito  espaço para residência  de um simples  governador, nasceu e  criou-se o vencedor de  Ourique, o primeiro rei  dos portugueses.

O mosteiro da condessa  Mumadona, santuário  consagrado á Virgem sob  a invocação de Nossa  Senhora da Oliveira e  venerado em todo o reino  pelo milagre que deu  origem á invocação,  tornou se mais tarde  nessa real Colegiada que  desfruta honras quase de  Sé.

Deu foral á nova vila o  conde D. Henrique,  conservando-lhe o  mesmo nome da antiga,  que se chamava Vimarães. Parece que a  etimologia daquele nome  eram as duas palavras  latinas - Via maris, que se viam esculpidas numa  pedra numa torre da vila  velha, que na edificação  do castelo ficou no  centro, servindo de torre  de menagem. Esta  inscrição, sem duvida do  tempo da dominação  romana, indicava que a  estrada que por ali  passava conduzia à costa  do mar. Da inscrição pois  proveio á terra o nome de  Vimaranes ou Vimarães, que ao diante se  corrompeu no de  Guimarães, Pela mesma  razão se denominava  quinta de Vimarães a  propriedade em que  Mumadona erigiu o seu  mosteiro,

Por morte do conde D.  Henrique, continuou seu  filho, o príncipe D. Afonso  Henriques, a residir em Guimarães, aonde o veio  cercar, no ano de 1130,  seu primo D. Afonso VII,  rei de Leão e Castela, por aquele se querer eximir  de lhe render  vassalagem. Foi este  cerco que deu lugar á  memorável acção de D.  Egas Moniz em que este  tão esforçado cavaleiro  quão dedicado aio do  jovem príncipe, tendo conseguido de D. Afonso  VII o levantamento do  sitio, sob promessas que  ao depois se não  cumpriram, apresentou-se  em Toledo, perante o  monarca castelhano, com  sua mulher e filhos, todos  vestidos de alva e com  baraço ao pescoço,  oferecendo assim a sua  vida e a de sua família  pela palavra não cumprida. Afonso VII  soube corresponder com  generoso perdão a  tamanho rasgo de  lealdade e nobreza de  carácter, tanto mais digno  de admiração por ser  praticado numa época em  que os próprios príncipes  faziam ostentação de  falta de cumprimento das  suas mais solenes  promessas.


As gloriosas empresas de  D. Afonso Henriques  contra os sarracenos,  dilatando de ano para ano  os limites da nascente  monarquia, fizeram perder  á vila de Guimarães a  prerogativa de corte, que  se mudou com grande  prejuízo seu para a cidade  de Coimbra, mais central  em relação às novas  conquistas, que se tinham  estendido pela  Estremadura e Alentejo  até ao Algarve. Porém do  que a vila perdeu com a  saída da corte, não  tardou a ser compensada  com a grande afluência  de peregrinos e romeiros  quem vendo-se  desafrontados do maior  perigo das correrias dos  moiros, vinham de longes terras venerar a  sagrada e milagrosa  imagem de Nossa  Senhora da Oliveira.

Nesses primeiros séculos  da monarquia, em que as  guerras absorviam todas  as atenções e em que as armas constituíam, por  assim dizer, o único  exercício nobre e  honroso, a vila de  Guimarães engrandecia-se á sombra do santuário,  cujos milagres ecoavam  de um a outro extremo do  reino, vindo aqui  estabelecer-se muitas  famílias nobres e varias  ordens religiosas. E  quando Portugal, já  grande e temido pelas  suas vitorias e  conquistas, começou a  colher os frutos da paz,  prosperou então  Guimarães pelo poderoso  impulso da industria.  Porém, a separação do  Brasil, para onde  exportava a maior parte  dos seus produtos fabris,  ocasionou-lhe a  progressiva decadência  do seu comercio e da sua  industria manufactora.

Nas discórdias que  rebentaram entre el rei D.  Dinis e seu filho, o  príncipe D. Afonso e na  luta travada para a  independência do país,  entre o mestre de Avis e  D. João I de Castela,  padeceu Guimarães  cercos e combates. As  pestes que flagelaram  Portugal no século XVI,  dizimaram-lhe grande  parte da sua população.

No antigo regímen gozava  de voto em cortes com  assento no banco  terceiro. A imagem da  Virgem, tendo nos braços  o Menino Jesus, que  empunha na mão  esquerda um ramo de  oliveira em campo de prata, constitui o brasão  de armas da antiga vila  de Guimarães, há pouco  elevada á categoria de cidade.

Está situada Guimarães  na província do Minho, em  terreno um tanto alto,  próximo das faldas da  serra de Santa Catarina.  Dista do Porto oito léguas  para o norte e três de  Braga para o nascente.

Tem as seguintes  paroquias: a Colegiada de  Nossa Senhora da  Oliveira; S Miguel do  Castelo; S. Sebastião; S.  Paio e Santiago. A  primeira, cuja fundação  primitiva pertence á  condessa Mumadona, como acima dissemos, foi  erigida em capela real  pelo conde D. Henrique,  deixando então de ser mosteiro. D. Afonso  Henriques e os Reis seus  sucessores, concederam-lhe muitas honras e bens e alcançaram-lhe do papa  grandes privilégios, com  os quais veio a ser uma  das mais ricas e insignes colegiadas do reino.  Compõe-se o cabido de  varias dignidades e  cónegos, presididos por  um prelado que se intitula  dom prior de Guimarães.


O templo da condessa  Mumadona durou, com  poucas alterações, até ao  reinado del rei D. João I,  que o fez demolir pelo seu  estado de ruína,  mandando construir o que  hoje existe, o qual os  cónegos modernamente  deturparam, mascarando-lhe com estuques e  doiraduras suas  venerandas e góticas
feições.


Todavia ainda  conserva muitas  antigualhas de alto  apreço histórico e  artístico. Em frente das  primeiras, poremos a pia  em que S. Giraldo,  arcebispo de Braga,  baptizou a D. Afonso  Henriques, e o oratório de  prata de D. João I de  Castela. tomado na  batalha d Aljubarrota por  D. João I de Portugal, que  logo o ofereceu, com  outros despojos de tão  grande vitoria, a Nossa  Senhora da Oliveira. Entre as segundas figuram  muitos e riquíssimos  vasos e alfaias, que  compõem o precioso  tesouro daquela insigne  Colegiada.


A imagem de  Nossa Senhora da Oliveira é muito antiga e, conforme a tradição, trouxe-a á Lusitânia o apostolo Santiago.

Em  frente da igreja ergue- se um curioso monumento, obra do reinado de Afonso IV. É um cruzeiro de pedra, com varias imagens e ornatos de alto e baixo relevo e colocado do centro de quatro arcos goticos, que sustentam a abobada que o cobre tudo de pedra. Próximo vê-se uma oliveira cercada de grades de ferro, que recorda o milagre de Nossa Senhora e que consistiu, segundo a lenda, em que uma oliveira que para ali se transplantara em tempos remotos, secando-se, logo depois reverdeceu, assim que por ela passou a dita imagem da Virgem.


A igreja de S. Miguel do Castelo, era a matriz da vila velha. Está edificada perto do castelo. É um pequeno templo de mesquinha arquitectura que mostra mui grande antiguidade. Nele é que foi baptizado o nosso primeiro rei. A pia que serviu nesta solenidade foi transportada para a igreja de Nossa Senhora da Oliveira em 1664.

A igreja de Santiago, reconstruída em tempos modernos, dizem que fora outrora um templo gentílico dedicado a Ceres Os antiquários fundamentam esta opinião  com uma inscrição que  aí se achou, quando se procedeu á reedificação da igreja.


Guimarães possui muitos outros templos e capelas, conventos e estabelecimentos de caridade Mencionaremos apenas os mais importantes. A igreja da Misericordia foi fundada em 1585. Nossa Senhora da Consolação, templo moderno, de boa arquitectura, está edificado num sitio aprasivel cercado de árvores num extremo da cidade. A igreja de S. Dâmaso foi erigida em 1641, em memoria deste santo pontífice natural de Guimarães. O convento de S. Domingos, da extinta ordem dos pregadores, foi  fundado em 1397 e depois reedificado. O convento de S. Francisco, de religiosos franciscanos, teve começo em 1290. O convento de Santo António, de frades capuchos, foi construído em 1644. Os templos destes conventos acham-se em bom estado e consagrados ao culto. Os conventos de freiras de Santa Clara, feito em 1561; de Santa Rosa, fundado em 1680; de Capuchas, erigido em 1681; o de Santa Teresa, construído em 1685, ainda estão ao presente habitados. Os hospitais da Misericordia, de Santo António dos Capuchos, e dos terceiros de S. Domingos e, de S. Francisco, são bem administrados. Os dois últimos, podem-se contar entre os melhores estabelecimentos deste género que há no país. Contíguos aos seus edifícios, têm os terceiros dois templos em que se fazem as festas com bastante luzimento.


Guimarães tem vários terreiro e praças, das quais a principal, por sua extensão e certa regularidade, é a praça do Toural. E ornada nas extremidades com um esbelto chafariz, feito em 1588 e com um bonito cruzeiro, levantado em 1650. As ruas, pela maior parte, são estreitas, tortuosas, mal calçadas e pouco limpas, mas vêem-se nelas muitas casas nobres de boa aparência. A casa da câmara. situada na praça em que está o templo de Nossa Senhora da Oliveira, é obra del rei D. Manuel. cujas armas e esfera armilar avultam na frente do edifício.


Possui esta cidade um teatro construído, regularmente denominado de D. Afonso Henriques.


Além dos monumentos de antiguidade já referidos, encerra os seguintes, também apreciáveis: varias torres e alguns lanços da sua cerca de muralhas, estes fabricados por el rei D. Dinis e por D. Afonso IV e aquelas por D. João I; o vasto palácio dos duques de Bragança, principiado no século XV por D. Afonso, primeiro duque de Bragança, onde se admiram duas grandes e formosas janelas góticas, que pertenciam á capela. Neste paço residiram por vezes alguns príncipes e princesas desta família. Hoje está parte em ruínas e parte servindo de quartel ao batalhão de caçadores nº 6. Infelizmente o vandalismo que tantos monumentos históricos tem destruído no nosso país, arrasou até aos alicerces as mais belas torres que o mestre de Avis edificou para defesa das portas de Guimarães.


Abastecem a cidade muitas fontes de excelente agua e de todos os géneros necessários á vida; fornece- a um mercado todos os sábados, que é sem duvida o mais importante mercado semanal de todo o reino, ao qual concorrem de muitas léguas em redor muitos gados, aves, cereais, frutas, loiças, diversas qualidades de tecidos de lã, seda, linho e algodão, ferragens, etc. Nos primeiros dias de Agosto, tem uma feira anual, porém insignificante.


Guimarães não tem passeio publico, propriamente dito, porém o jardim dos terceiros de S. Domingos e o Campo da Feira, são dois lugares de recreio muito aprasiveis. Este ultimo tem a primazia pela sua pitoresca situação, que é uma das saídas da cidade; pelo ribeiro que o corta; pela sua formosa ponte, guarnecida de estátuas, assentos e árvores; e pela colina arborizada, em que se ergue a esbelta igreja de Nossa Senhora da Consolação.

Os subúrbios são encantadores. Em nossa opinião, nenhuma outra cidade de Portugal os possui mais belos. Os palácios dos senhores condes de Arrochela e de Vila Pouca, com os seus jardins em terrados, dispostos como em trono; o Castelo do conde D. Henrique, vestido de heras e cercado de árvores; o mosteiro da Costa, da extinta ordem de S. Jerónimo, rico de memorias da rainha D. Mafalda e de D. António, prior do Crato, sentado majestosamente a meia encosta de um monte, todo coberto de arvoredos, entre os quais se admira um carvalho colossal, que conta mais de sete séculos; a serra de Santa Catarina, com seus bosques frondosos, cascatas e grutas; o ribeiro Celho, junto á cidade; e o Ave, um pouco mais distante, com suas viçosas e sombreadas margens, formam variadíssimos quadros, qual deles mais delicioso.

O termo é de grande fertilidade, pela muita abundância de águas, que por todo ele rebentam e se cruzam. Produz muitos cereais, especialmente milho, boa quantidade de legumes, de vinho, linho, algum azeite, etc. Tem óptimas pastagens em que se cria muito gado.

A população de Guimarães ascende a sete mil e trezentos habitantes, grande parte dos quais se empregam no fabrico das ferragens e dos tecidos de linho e nos curtumes de coiros.

Guimarães, finalmente, conta entre os seus filhos muitos santos, que honram o martirológio e muitos homens ilustres nas armas, nas ciências e nas artes 

Por Ignacio de Vilhena Barbosa

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Pelo Censos 2011 Guimarães conta com 158 108 habitantes


Freguesias de Guimarães:

Brito, Caldelas (vila das Caldas das Taipas), Lordelo, Moreira de Cónegos, Ponte, Ronfe, São Jorge de Selho (vila de Pevidém), São Torcato (AMU), Serzedelo. Aldão, Azurém, Costa, Creixomil, Fermentões, Gondar, Mascotelos, Mesão Frio, Oliveira do Castelo, Pencelo, Polvoreira, Santiago de Candoso, São Cristóvão de Selho, São Lourenço de Selho, São Martinho de Candoso, São Paio, São Sebastião, Silvares, Urgezes, Calvos, Conde, Corvite, Gandarela, Gémeos, Guardizela, Nespereira, Pinheiro, Santa Eufémia de Prazins, Santa Maria de Airão, São Faustino, anteriormente São Faustino de Vizela, São Martinho de Sande, Serzedo, Vermil, Vila Nova de Sande, Arosa, Atães, Balazar, Barco, Castelões, Donim, Figueiredo, Gominhães, Gonça, Gondomar, Infantas, Leitões, Longos, Oleiros, Rendufe, Salvador de Briteiros, Santa Leocádia de Briteiros, Santa Maria de Souto, Santo Estêvão de Briteiros, Santo Tirso de Prazins, São Clemente de Sande, São Lourenço de Sande, São João Baptista de Airão, São Salvador de Souto, São Tomé de Abação, Tabuadelo

1 comentário:

  1. Não esquecer Guimarães 2012 - Capital Europeia da Cultura / European Capital of Culture

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