História das Ordens Religiosas em Portugal - Cónegos Regrantes de Santo Agostinho
O Instituto de Cónegos Regulares teve início na Igreja Latina, pouco depois do ano de 362, por Santo Eusébio, Bispo de Vercelli. Depois S. Martinho introduziu-o em França e Santo Agostinho na Sé de Hipona. Daqui é provável que passassem a Hespanha os discípulos de Santo Agostinho, quando pelos anos de 430 foram forçados a abandonar aquela Província por causa da invasão dos Vândalos; e assim como S. Gelasio passou a Roma por esta altura e fundou na Igreja Lateranense o Mosteiro de Cónegos Regulares, assim a Portugal viriam outros com o mesmo desígnio.
Confirma-se a antiguidade deste Instituto em Portugal, porque nas várias catedrais dele viveram regularmente na sua forma primitiva, de que são testemunhas as Igrejas de Braga, Lisboa, Lamego, Porto, Viseu, Guarda, Coimbra e as Colegiadas de Guimarães, Cedofeita, Leça e outras, que foram todas de Cónegos Regulares; e tornando da Casa Santa D. Telo, Arcediago da Sé de Coimbra, com o seu Bispo Maurício, encontrou os Cónegos reduzidos à vida secular e não lhe sofrendo o ânimo ver perder o Santo Instituto, que professara, ajuntou outros Clérigos virtuosos, que o quiseram seguir e fundou fora dos muros de Coimbra um Mosteiro com o título de Santa Cruz.
Fundado o Mosteiro no ano de 1131 e entrando nele o mesmo Bispo Telo e onze companheiros, elegeram para seu primeiro Prior a S. Teotónio, que já o havia sido da Colegiada de Viseu, também de Cónegos Regrantes. Floresceu logo neste Convento a santidade e a ciência em ilustres varões, sendo um dos grandes ornamentos e brasões desta ordem poder enumerar por filho ao glorioso Santo Agostinho; e pela grande fama destes religiosos, eram eleitos para Arcebispos e Bispos das catedrais do Reino e, outros, para reformar Mosteiros já edificados. Tão elevada era a fama deste Convento, que era falado em toda a parte, por cuja causa os Soberanos Reis de Portugal o dotaram com tão liberal e pródiga mão, que, saindo das rendas deste Convento as dos Bispados de Leiria e Portalegre e o que se aplicou para fundar a Universidade de Coimbra, ainda ficaram ao Mosteiro de Santa Cruz mais de setenta mil cruzados de renda.
Por muitos anos permaneceu este e os mais Mosteiros do seu instituto em exemplar observância; veio porém com o tempo a afrouxar pelos motivos que já referimos sobre os Beneditinos; e o rei D. João III, com faculdade da Sé Apostólica mandou reformar o Convento de Santa Cruz pelo famoso Frei Brás de Barros, da Ordem de S. Jerónimo, que depois subiu à dignidade de primeiro Bispo de Leiria, a cuja reforma deu início a 13 de Outubro de 1527 e tão eficazmente sublimou esta Santa e Canónica Ordem, que logo se viu nela outra Cartuxa e a antiga observância, o que moveu aos Priores Comendatários de S. Vicente e Grijó a largarem os seus Mosteiros para se reformarem e unirem ao de Santa Cruz debaixo de uma Congregação, o que foi confirmado por Paulo III e se obteve faculdade para os mais fazerem o mesmo, tanto que fossem vagando, estabelecendo-se a forma do seu governo com Priores trienais e um Geral de toda a Congregação, que também é Prior de Santa Cruz, prelado so seu isento e Cancelário da Universidade de Coimbra, o qual nos actos e graus de Doutoramento tem o primeiro lugar e se lhe capta benevolência primeiro que ao Reitor.
Ultimamente se mandou reformar esta Congregação por Breve do Santíssimo Papa Inocêncio XIII, passado em 1723, à instância do rei D. João V, como tão zeloso do bem espiritual das Religiões e com especialidade desta, nomeando logo o Pontífice para reformador e Visitador com preceito formal de obediência ao Reverendíssimo Padre Frei Gaspar da Encarnação, Missionário Apostólico do Seminário de Varatojo, varão ilustre por sangue, virtudes e desengano do mundo, que deixou, e todas as honras e dignidades que já tinha e as que podia esperar.
Continua esta reforma há vinte e dois anos com grande exemplo e observância e têm abraçado o seu Instituto vários Senhores da primeira Nobreza de Portugal, atraídos das virtudes que ali vêm praticar, por cujos progressos louvou e confirmou o Santíssimo Papa reinante Bento XIV, na sua Constituição e Motu próprio de 1742, tudo do que o reverendíssimo reformador tinha obrado, pois nas grandes expressões e elogios com que honra esta Reforma, dá a mais irrefragável prova de grande utilidade dela e grande serviço que fazem a Deus estes Religiosos.
Os Conventos de Cónegos Regrantes foram muitos em Portugal; porém, no tempo dos Comendatários extinguiram-se a maior parte deles, passando alguns a Comendas e Igrejas seculares, enquanto outros se uniram a Conventos de diversas Religiões. Os que se uniram ao de Santa Cruz foram dezassete, a que se acrescentaram três, que se fundaram depois dos quais só catorze são habitados e os restantes seis estão unidos a outros, como se vê a seguir:
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