domingo, 23 de outubro de 2011

História de Marvão e imagem de 1860 do antigo brasão




História de Marvão e imagem de 1860 do antigo brasão

A VILA E PRAÇA DE MARVÃO

Num dos mais altos cabeços da serra de Portalegre, na província do Alentejo, está assentada a vila e praça de Marvão. Todavia, posto que este monte conte meia légua de elevação, o cume é perfeitamente plano.

Para os lados de norte, sul e oeste, é formado todo o monte de rocha viva, como que cortada a prumo, até a um profundíssimo vale, com tais quebradas e tão escarpada penedia, que o acesso por ali é impossível. O ingresso para a vila é pelo lado de leste, onde o dorso da montanha está despido de rochedos e se eleva com menos precipitada inclinação. Porém ainda assim e apesar de subir em voltas, o caminho é muito íngreme e penoso.

Como esta parte é a que olha para a fronteira de Espanha, de onde dista uma légua, é nela que se acham as principais fortificações da praça, pois que as outras estão defendidas pela natureza. Na raiz do monte ergue-se pois a primeira muralha, que é banhada pelo pequeno rio Aramenho, o qual lhe serve de fosso. Dentro da vila para oeste levanta-se o castelo, acompanhado de alguns baluartes.

Dizem os nossos antiquários que foi fundada esta vila quarenta e quatro anos antes do nascimento de Cristo, pelos herminios, antigo povo da Lusitânia que habitava na serra da Estrela e suas circunvizinhanças e que, vindo a arruinar-se ou sendo destruída na invasão dos sarracenos, foi mandada reedificar e povoar no ano da era cristã de 770, por um moiro chamado Marvão, que era senhor de Coimbra e do qual tomou o nome.

El rei D. Dinis mandou edificar o castelo e a cerca de muralhas; e nos tempos da guerra da restauração contra o domínio de Castela, fizeram-se-lhe algumas obras de fortificação, segundo o sistema moderno.

Marvão gozava antigamente de voto em cortes com assento no banco décimo primeiro e tinha por alcaides mores os condes da Atalaia.

Consiste o seu brasão de armas de um castelo de oiro em campo azul, tendo por cima o escudo das quinas e duas chaves.

Divide se a vila em duas paroquias, uma da invocação de Santa Maria e a outra intitulada de Santiago. Tem casa de Misericórdia, hospital e quatro ermidas.

Os moradores fornecem-se de agua de uma grande cisterna que há no Castelo, junto á entrada de um poço de agua nativa e de uma fonte que fica na encosta do monte próximo ao caminho que conduz para a vila.

Marvão encerra uma população de mil e trezentas almas. De vários sítios da vila, descobre-se um horizonte dilatadissimo. Vêm-se, entre outras serranias, as da Estrela e de Beja e diversas povoações.

Nos subúrbios tinha um convento de frades franciscanos. O rio Aramenho faz férteis os campos circunvizinhos, onde há algumas hortas e pomares. O termo produz cereais, legumes e azeite e nele se criam gados e caça.

Numa quinta que ali possui o senhor conde da Atalaia, têm- se achado muitos vasos de barro, medalhas, inscrições e outras antiguidades. Não muito longe, ainda dentro do termo de Marvão, descobrem se ruínas de edifícios antigos em uma grande extensão de terreno, que bem mostram ter existido ali uma povoação importante. Conforme a opinião de um nosso escritor, que se deu muito ao estudo das antiguidades do nosso país, o padre Luiz Cardoso da congregação de S. Filipe Néri, essas ruínas são de uma cidade que se denominava Arménia. Diz o mesmo autor que o nome de Aramenha, que se dá ali a uma freguesia e o do Aramenho, porque se conhece o rio, são corruptelas do nome daquela cidade.

No distrito desta freguesia de Aramenha, ergue-se a serra da Portagem, nas abas da qual, para o lado do ocidente, há uma caverna de muita profundidade, que terá cento e cinquenta palmos de altura. Dela segue pelas entranhas da serra e em direcção do norte outra caverna compridissima, onde os curiosos não se têm atrevido a penetrar muito em razão da falta de luz e ar.  As paredes e abobadas destas cavernas são de rocha e dizem que mostram sinais de terem sido abertas por esforço de arte humana. É tradição naqueles povos que foi uma mina de chumbo que aí esteve em exploração.

Dista Marvão duas léguas da cidade de Portalegre, para o nordeste e uma da vila de Castelo de Vide para o sueste. Valença de Alcântara é a povoação do reino vizinho que lhe fica mais perto, na distancia de duas léguas. Porém, á parte mais próxima da fronteira, como acima, dissemos não vai mais de uma légua.

Por Ignacio de Vilhena Barbosa

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Pelos Censos 2011 Marvão conta com 3553 habitantes

Freguesias de Marvão:

Beirã, Santa Maria de Marvão, Santo António das Areias, São Salvador da Aramenha

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