segunda-feira, 24 de outubro de 2011

História de Mértola e imagem de 1860 do antigo brasão



História de Mértola e imagem de 1860 do antigo brasão

A VILA DE MÉRTOLA


Foi Mértola uma das mais importantes e nomeadas cidades da antiga Lusitânia, com o nome de Mirtilis Julia.

Segundo a opinião de alguns escritores, deveu a sua origem aos tírios e fenícios que, fugindo das armas vitoriosas de Alexandre Magno, vieram aportar á Lusitânia e aí fundaram, trezentos e dezoito anos antes do nascimento de Cristo, uma povoação sobre o Guadiana a qual denominaram Mirtilis, que quer dizer Nova Tiro e que, ao diante, se corrompeu em Mértola.

Seja ou não verdade esta origem, pelo menos não repugna dar-lhe credito. Os fenícios eram o povo mais industrioso da antiguidade. Foi a primeira nação, de que há noticia, que se deu com fervor e perseverança ao trafico comercial, saindo do seu país para permutar as suas mercadorias no estrangeiro e para explorar fontes de riqueza em remotas regiões.

A Península Ibérica, país então selvagem e mui afastado do centro de civilização dessa época, era uma das regiões que os fenícios mais frequentavam. Navegando terra a terra, percorriam todas as costas do Mediterraneo, devassando os rios que nele vêm desaguar e, saindo ao oceano, vinham também surgir nos nossos rios, principalmente no Guadiana no Sado e no Tejo. Exploravam as terras vizinhas; recolhiam os produtos que mais lhes convinham, sobretudo miniferos; e nos sítios mais ricos, ou que mais apropriados lhes pareciam a quaisquer vantagens, fundavam pequenas colónias.

É possível, portanto, que no caso de não ser exacta aquela noticia, aqueles navegadores aventureiros, em algumas das suas excursões pelo Guadiana, fundassem junto ás suas margens uma povoação.

O que é fora de duvida é que no tempo em que Roma estendia por toda a parte o seu domínio, era Mirtilis uma cidade de tal importância que mereceu ser elevada, pelos orgulhosos senhores do mundo, á preeminencia de município do antigo Lacio, prerogativa que bem poucas cidades das Hespanhas puderam alcançar. Os seus moradores, talvez em sinal de gratidão por alguns favores recebidos, acrescentaram-lhe o nome de Júlio César, ou este, para a honrar, lhe deu o seu nome, com o que se ficou chamando Mirtilis Julia. Encontram-se muitas noticias desta cidade nos autores antigos e também se têm achado, nos próprios lugares, muitos vestígios seus, que atestam a sua prosperidade e grandeza.

Nas invasões dos bárbaros do norte, que destruíram o império romano e depois, na dos árabes, que derrocaram a monarquia goda, padeceu muito aquela cidade, na espoliação das suas riquezas, na ruína dos seus edifícios e na morte e dispersão dos seus habitantes. É provável que tantas calamidades a deixassem inteiramente arruinada, como aconteceu a todas ou quase todas as principais cidades da peninsula. Os moiros reconstruíram-na e de novo a povoaram, porém na guerra cruenta que em breve se acendeu entre o islamismo e cristianismo, viu-se exposta a novos desastres e vicissitudes até que o nosso rei D. Sancho II a conquistou no ano de 1239, unindo-a para sempre á coroa de Portugal.

Desta vez não foi mais feliz que nas guerras anteriores, pois que nessa luta tremenda de cristãos e moiros, a espada do vencedor era tão inexorável para os homens como para os monumentos. D. Sancho II mandou-a povoar e fez doação dela á ordem militar de Santiago, para que os seus cavaleiros tomassem o encargo de defender aquela posição importante, por ficar fronteira á Andaluzia e próxima do Algarve, onde os moiros conservavam florescentes estados e grande poder.

Já se vê que em tais circunstancias não podia crescer e desenvolver se a povoação, que não era por certo apetecível uma vivenda tão vizinha de inimigos tão figadais. Por conseguinte só veio a tomar algum incremento depois que os sarracenos foram expulsos da Andaluzia e do Algarve.

Deu-lhe foral de vila el rei D. Dinis, sendo de há muito conhecida pelo seu actual nome de Mértola. Gozava então de voto em cortes, sentando-se os seus procuradores no banco décimo oitavo. Eram seus alcaides mores os condes de Santa Cruz, titulo e família hoje extintos.

O seu brasão de armas é um escudo de prata e nele um cavaleiro de Santiago a cavalo e armado de escudo e espada, em acção de arremeter. Na parte superior, juntos a um canto do escudo, tem dois martelos.

Está sentada esta vila na encosta de um monte, cujas faldas banha o Guadiana pelo lado de este e o pequeno, mas fundo, rio de Oeiras pelo sul. Dista da cidade de Beja nove léguas, para o sul e onze da foz do Guadiana.

Contém a vila de Mértola uns dois mil e quatrocentos habitantes, com uma paroquia, igreja e hospital da Misericórdia e cinco ermidas. Teve um convento da ordem militar de Santiago.

A sua posição é bastante defensável por natureza e alguma coisa fez a arte em outros tempos para a tornar mais forte. As margens do Guadiana e da ribeira de Oeiras fazem-lhe alegres e aprazíveis os subúrbios, assim como as águas dos dois rios concorrem para os fazer produtivos o termo, que se estende até ás serras de Caldeirão, Agra e S. Varão, é dos mais férteis do Alentejo. Produz cereais, legumes frutas, vinho, cêra, muito mel, gado e caça. O Guadiana fornece a vila de diversas espécies de peixe, sobretudo de solhos, em que abunda. Tem duas feiras no ano, uma a 13 de Junho e a outra a 21 de Setembro.

Tanto no terreno ocupado pela vila, como nas imediações, têm-se encontrado em diferentes épocas, muitos objectos de antiguidade e alguns de grande apreço artístico, como estátuas, vasos, colunas, cippos, etc. De uma bela ponte, que os romanos construíram sobre o Guadiana, ainda restam vestígios. O nosso erudito escritor D. frei Amador Arraes, bispo de Portalegre, falando numa sua obra da vila de Mertola, diz que entre umas estátuas de mármore que nos fundamentos da Misericórdia desta vila se acharam, vira uma de uma matrona admiravelmente lavrada.

Na antiga Mirtilis padeceu martírio o bispo S. Fabricio e nela nasceu S. Varão, irmão de Santa Barbara e de S. Brissos, o qual, vivendo vida eremitica na serra a que deu o seu nome, aí morreu pelos anos de 300 da era cristã. No sitio da sua sepultura, fundou-se depois uma ermida que, de reconstrução em reconstrução tem chegado até aos nossos tempos e é muito venerada e procurada daqueles povos. Próximo da ermida mostra-se a gruta em que o santo eremita viveu.

Por Ignacio de Vilhena Barbosa


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Pelo Censos 2011 Mértola conta com 7289 habitantes

Freguesias de Mértola

Alcaria Ruiva, Corte do Pinto, Espírito Santo, Mértola, Santana de Cambas, São João dos Caldeireiros, São Miguel do Pinheiro,São Pedro de Solis, São Sebastião dos Carros

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