segunda-feira, 24 de outubro de 2011

História de Miranda do Douro e imagem de 1860 do antigo brasão



História de Miranda do Douro e imagem de 1860 do antigo brasão


A CIDADE DE MIRANDA DO DOURO

Na parte mais meridional da província de Trás os Montes, onde o Douro a separa do reino de Leão, ergue-se a cidade de Miranda, sentada sobre fragas, em lugar montuoso, na margem direita daquele rio.


Apesar da antiguidade e diversos nomes romanos, que o autor da Corographia Portugueza atribui a esta povoação, parece com melhor fundamento que teve principio no governo de D. Afonso Henriques, sendo simplesmente infante. E há quem date a fundação do ano de 1136. O que é provável, atendendo ás guerras que o moço D. Afonso Henriques sustentou contra seu primo, rei de Leão, é que edificasse naquele ano o castelo de Miranda, como atalaia e guarda daquela fronteira contra as invasões dos leoneses e que, depois conforme o costume e necessidades desses tempos, os moradores dos campos fossem procurando o abrigo da nova fortaleza e construindo casas em volta de suas muralhas.

Crescendo a povoação, levantou se em torno dela, para sua defensa, uma cerca de muros com suas torres e portas. Porém, todas estas fortificações, por mal construídas ou pelo efeito natural das guerras, achavam-se em grande ruína no fim de século e meio- El rei D. Dinis começou a reconstrui-las no ano de 1294 e no de 1297 fez a Miranda vila, dando-lhe foral com muitos privilégios.

As tristes causas, que ali tinham atraído habitantes vieram por fim a cessar, mas a povoação teve depois maior incremento pelas causas opostas àquelas. A longa paz trouxe relações amigáveis ás duas nações rivais e o comercio em breve fez prosperar as povoações de uma e outra fronteira.

Querendo el rei D. João III remediar alguns males que se davam no arcebispado de Braga, por causa da demasiada extensão do seu território, resolveu tirar-lhe a província de Trás os Montes e criar nela um bispado. Impetrou portanto a erecção da nova diocese, que lhe foi concedida por bula do papa Paulo III, de 22 de Maio de 1545. A sede episcopal foi colocada em Miranda, que por esse motivo foi elevada pelo mesmo monarca á categoria de cidade.

Entre os foros e privilégios concedidos por D. João III á nova cidade, foi um deles a prerogativa de enviar procuradores ás cortes, destinando-se-lhes para assento o quarto banco- A alcaidaria mor foi dada aos marqueses de Távora. Não sabemos se o seu brasão de armas lhe foi concedido também por essa ocasião. Consiste num escudo coroado, tendo no meio um Castelo com três torres e sobre a torre do centro, a lua em quarto crescente, com as pontas voltadas para baixo. A fortaleza dizem que comemora a fundação da cidade, que teve principio no seu castelo; e a lua em crescente, querem que signifique a esperança ou o prognóstico do engrandecimento sucessivo da povoação.

Na porfiosa luta da restauração da nossa independência, no século XVII, padeceu a cidade de Miranda, como todas as povoações da raia. Por essa ocasião fizeram-se-lhe algumas obras de fortificação e apropriou-se o antigo castelo ao uso da artilharia, para o que se derrubaram as quatro torres que se erguiam nos seus quatro ângulos, até ficarem na altura dos lanços de muro que as unia.

Na guerra da sucessão de Espanha, travada entre esta nação e a França de uma parte e a Inglaterra, Portugal, Holanda e o império Alemanha da outra, foi a cidade de Miranda tomada por traição no dia 8 de Julho de 1710. O sargento mor Pimentel entregou a praça ao marquês de Bay por seis mil dobrões, que recebeu, ficando a guarnição prisioneira de guerra. Porém no ano seguinte, foi esta afronta vingada por D. João Manuel, conde da Atalaia, que depois de um curto mas rigoroso cerco, tomadas as obras de defesa exteriores e aberta a brecha na muralha, fez render a praça por capitulação aos 15 de Abril, entregando-se a guarnição prisioneira de guerra.

Rebentando novas hostilidades entre os dois países em 1762, o exercito espanhol, comandado pelo marquês de Sarria, invadiu e assenhoreou-se de quase toda a província de Trás os Montes. Até ao ano seguinte, em que se fez a paz, padeceu Miranda infinitas vexações.

Em 1770 foi desmembrado o bispado de Miranda, criando-se com o território que se lhe tirou o bispado de Bragança. Dez anos depois, foram outra vez reunidas as duas dioceses, pela bula de 27 de Setembro de 1780, mas então perdeu a cidade de Miranda a sua preeminencia eclesiástica. A sede episcopal transferiu-se para a cidade de Bragança.

Na grande luta que Portugal sustentou no começo deste século (19), contra o poder da Espanha e da França, que pretendiam unidas avassala-lo e dividi-lo, Miranda e toda a província do Trás os Montes foram vítimas de invasões assoladoras e também glorioso teatro do heróico esforço que, secundando o grito de independência levantado em outras terras do reino, tanto contribuiu para libertar o país dos seus opressores.

Dos muitos e diversos prejuízos que a cidade teve, em meio de tantas vicissitudes e desgraças, não a tem ressarcido o tempo, antes pelo contrario, porque nas variadíssimas adversidades porque tem passado Portugal, desde a paz geral de 1815, até hoje, Miranda com toda a província de Trás os Montes é a parte mais queixosa do reino. Enquanto que no resto do país se operam melhoramentos, que o vão transformando dando-lhe seguras condições de prosperidade, aquela província jaz como desligada do reino, á falta de comunicações fáceis e jaz também em grande torpor e decadência, á mingua de industria e movimento. Ainda agora é que o progresso começa a bater ás portas desta província.


Não tem esta pequena cidade mais que uma paroquia, que é um templo do três naves edificado por el rei D. João III para servir de catedral e quem durante quase dois séculos e meio, gozou dessa honra.

Além desta igreja, os seus principais edifícios são a casa da Misericórdia, hospital e o seminário, construído pouco antes da extinção do bispado de Miranda. Dentro e fora da cidade há varias capelas. Não há fontes no recinto dos muros, mas sim muitos poços, mais excedentes pela quantidade da agua que possuem que pela qualidade desta. Junto porém á cidade há quatro fontes.

Miranda ainda conserva o seu velho castelo e cerca de muralhas, com três portas, tudo em estado de mais ou menos ruína. A sua posição é mais defensável por natureza, que por arte, pois que além daquelas antigas fortificações, a sua principal defensa consiste num forte construído junto à cidade na época da restauração de 1640.

O clima é tão frio e áspero no inverno e tão ardente no verão que há ali um rifão que diz: «em Miranda há nove meses de inverno e três de inferno.» Nesta ultima estação secam-se de ordinário as ribeiras dos seus subúrbios e desaparece ou definha-se a vegetação.

O rio Douro corre mui perto da cidade, apertado e violento e tem aí um pequeno porto. Também na sua vizinhança passa o rio Fresno, que desagua no Douro e tem uma ponte de pedra, e junto dela uma fonte que é alimentada por um aqueduto que vem sobre arcos desde o sitio de Vilarinho.

Apesar de ser bastante pedregoso, o termo produz muitos cereais, legumes, vinho, frutas e gado. A principal industria da povoação consistia há tempos e julgamos que ainda hoje, em curtimentos de coiros e em certos tecidos de lã ordinários, para consumo da localidade. Conta a cidade uns quatrocentos e tantos fogos.


Por Ignacio de Vilhena Barbosa


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Pelo Censos 2011 Miranda do Douro conta com 7462 habitantes


Freguesias de Miranda do Douro (com os nomes em Mirandês entre parênteses) 

Águas Vivas (Augas Bibas), Atenor (Atanor), Cicouro (Cicuiro), Constantim (Custantin), Duas Igrejas (Dues Eigreijas), Genísio (Zenízio), Ifanes (Anfainç), Malhadas, Miranda do Douro (Miranda de L Douro). Palaçoulo (Palaçuolo), Paradela, Picote (Picuote), Póvoa (Pruoba), São Martinho de Angueira (San Martino), Sendim (Sendin), Silva (Silba), Vila Chã de Braciosa (Bila Chana de Barceosa) 

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