segunda-feira, 24 de outubro de 2011

História de Monção e imagem de 1860 do antigo brasão


História de Monção e imagem de 1860 do antigo brasão


A VILA DE MONÇÃO

Esta antiquíssima vila está sentada em terreno elevado, próximo da margem esquerda do rio Minho, em distancia de duas léguas da praça de Valença, para o norte. Fica- lhe defronte Salvaterra, vila da Galiza.

Como sucede a quase todas as nossas povoações de origem anterior a monarquia, ignora-se a época da fundação desta vila. A historia, que refere Carvalho na sua Corographia, dizendo que a fundou el rei Brigo, pondo-lhe o nome de Obobriga; que arruinada depois, a fundaram de novo os gregos, denominando-a Orozion; que no tempo em que Santiago pregou nesta província a fé crista, era uma cidade chamada Mamia; é um agregado de fábulas, que outros nossos antiquários mais escrupulosos refutam com bons argumentos. Também não se pode dar mais credito a outras noticias que o mesmo autor dá, relativamente a mudanças de local da povoação.

O que de tudo isto se deve deduzir é que a sua antiguidade é mui grande. O nome de Monção é abreviatura de Mons Sanctus, Monte Santo, que dizem lhe davam os godos.

El rei D. Afonso III deu-lhe foral, em Março de 1261. Seu filho, el rei D. Dinis, construiu-lhe o Castelo e cercou-a de muros. D. João II reedificou o castelo e acrescentou- lhe um novo cinto de muralhas, com sua barbacã, pelo que se vê na porta do baluarte o pelicano, divisa deste ultimo monarca.

Na guerra que rompeu entre el rei D. Fernando de Portugal e D. Henrique II de Castela, na segunda metade do século XIV, veio um exercito castelhano pôr cerco a Monção. Apesar de ser pequena para se opor a tão poderoso inimigo, a guarnição defendeu a praça por muito tempo, com incrível valor. Multiplicavam-se os assaltos e estreitava-se o cerco todos os dias; mas os castelhanos eram sempre repelidos e os defensores da vila suportavam com corajosa resignação todo o género de sacrifícios. As coisas, porém, chegaram ao ultimo termo pelo apuro da fome. Ia pois a render-se a praça, quando uma mulher a salvou.

Deosadeu Martins, esposa do capitão mor de Monção, Vasco Gomes de Abreu, praticara em todo o cerco acções de verdadeiro heroísmo, primeiro acudindo ás muralhas na ocasião dos combates, ora animando os seus, ora aremeçando pedras e matérias inflamadas sobre os castelhanos e depois, quando os braços começavam a desfalecer pela fome, correndo a repartir o seu próprio pão pelos soldados que mais dele careciam. Porém este derradeiro recurso não tardou a exaurir-se. A heroína, entrando um dia no seu celeiro, apenas viu um punhado de farinha. Já não havia mais mantimentos na vila. A entrega da praça devia ser imediata. A ilustre matrona teve então uma ideia de inspirada. Mandou fazer alguns poucos pães com aquela farinha e, tomando-os no regaço, sobe acima de uma torre das muralhas e arremeça-os ao inimigo, exclamando: «A vós que não podendo conquistar- nos pela força das armas, nos haveis querido render pela fome, nós mais humanos e porque graças a Deus nos achamos bem providos, vendo que não estais fartos, vos enviamos esse socorro e vos daremos mais se o pedirdes.»

Os sitiadores, que com efeito, já estavam experimentando grande falta de mantimentos, desanimados de tomar a vila por assalto; e julgando-a agora abastecida ainda de viveres para um longo assedio, resolveram imediatamente a retirada e sem mais demora, partiram para a Galiza.

Os habitantes de Monção solenizaram com grandes festas e regozijos este sucesso e em comemoração do feito e obséquio da heroína, tomaram por brasão de armas da sua vila, uma torre em campo de prata, tendo sobre as ameias uma mulher com os braços erguidos e dois pães nas mãos e em volta esta legenda: «Deus a deu Deus o há dado», aludindo assim á heroína que concebeu o projecto da salvação publica e ao pão que foi o instrumento dessa gloriosa acção. A câmara mandou também pintar na sua bandeira o retrato de Deosadeu Martins. Depois da sua morte foi por largo tempo honrada a sua memoria, indo a câmara todos os anos, em certo dia, junto da sua sepultura, para aí se abrir e ler a lista dos vereadores.

El rei D. João I deu o senhorio de Monção a Lopo Fernandes Pacheco, em 1423, mas logo depois lho comprou, incorporando-o outra vez na coroa. D. Afonso V fez doação dele a D. Afonso, conde de Ourem e mais tarde marquês de Valença, filho primogénito do primeiro duque de Bragança. Opuseram-se porém os habitantes por tal modo que não foi possível ao conde tomar posse. Sucedendo daí a pouco tempo D. João II no trono e fazendo-se-lhe queixa desta desobediência, ao passo que a vila de Valença, dada também ao conde de Ourem na mesma ocasião, não tinha impugnado a doação, respondeu este soberano: «Valença é fêmea e Monção é macho.» E aquela resistência agradou tanto a D. João II, que já se dispunha para coarctar o poder da nobreza, que deu vários privilégios à vila, ordenando que nunca mais fosse alienada da coroa.

Na luta da restauração da 1640, foi sitiada pelas tropas de Filipe IV. Durou o cerco quatro meses e meio, durante os quais houve rijos combates, terminando por uma honrosa capitulação. E dizem que o general inimigo, ao ver o pequeno numero de combatentes que saiu da praça, ficara maravilhado da sua tenaz resistência.

Monção tinha voto nas antigas cortes, com assento no banco décimo.

Há na vila uma só igreja paroquial, intitulada de Santa Maria, e numa das capelas está a sepultura de Deosadeu Martins. Tem igreja e hospital da Misericórdia, três ermidas, uma delas do bonita fabrica, da invocação de Nossa Senhora do Outeiro e situada num espaçoso campo chamado do Cano. Tinha dois conventos de freiras de que restam os edifícios, um de S. Bento, fundado em 1550 e o outro de S. Francisco. Dentro da povoação há quatro fontes.

Monção ainda conserva em grande parte as suas antigas fortificações; e no século XVII fizeram-se-lhe diversas obras de defensa.

Os subúrbios são muito lindos e amenos. Para se ajuizar da sua beleza basta dizer que se estendem pelas formosíssimas margens do rio Minho.

Entre a vila e o rio há um olho de águas sulfureas, muito medicinares. Próximo também do mesmo rio, porém na distancia de três quartos de légua de Monção, vê-se uma curiosa antigualha. É uma elevada torre que o vulgo denomina Vara do Castelo, porque fazia parte do lindo castelo de Lapela, fundado por ordem de D. Afonso Henriques, ainda antes de ser aclamado rei. Este Castelo foi mandado arrasar no século XVII para desafrontar a praça de Monção, ficando só em pé, para memoria, aquela torre.


A meia légua ao sul de Monção, encontra se o magnifico palácio da Berjoeira, ricamente adereçado no interior e rodeado de belos jardins, com uma grande quinta de regalo. Foi começado em 1806 por Luiz Pereira Velho de Moscoso e por ele acabado no fim de vinte e oito anos de trabalhos, nunca interrompidos. Dizem que importou numa soma que não anda longe de quatrocentos contos. Pertence actualmente ao filho do fundador, o senhor Simão Pereira Velho de Moscoso.

Noutro sitio das cercanias de Monção, chamado Agrelo, há uma curiosidade natural digna de ver-se. É uma gruta formada por um enorme penedo e tão espaçosa que podem estar dentro dela, comodamente, muitas pessoas.

O termo de Monção é mui fértil. Produz muito milho e centeio, legumes, frutas vinho, linho, etc. Cria-se nele bastante gado de diversas espécies e abunda em caça miúda. O rio Minho fornece a vila de muito e bom peixe, principalmente de lampreias e salmão.

Monção conta mais de mil e duzentos moradores.

Por Ignacio de Vilhena Barbosa


***

Pelos Censos 2011 Monção conta com 19 210 habitantes

Freguesias de Monção

Abedim, Anhões, Badim, Barbeita, Barroças e Taias, Bela, Cambeses, Ceivães, Cortes, Lapela, Lara, Longos Vales, Lordelo, Luzio, Mazedo, Merufe, Messegães, Monção, Moreira, Parada, Pias, Pinheiros, Podame, Portela, Riba de Mouro, Sá, Sago, Segude, Tangil, Troporiz, Troviscoso, Trute, Valadares 

Sem comentários:

Enviar um comentário