«Meditar sobre o tempo, procurar saber se o passado e o futuro são válidos e na verdade existem, leva-nos a um labirinto que, embora familiar, não é menos indecifrável..
Cada dia somos outro, mas esquecemos sempre que sucede o mesmo com os nossos semelhantes. Talvez consista nisto o que os homens chamam solidão. Ou é assim, ou trata-se de uma solene imbecilidade.
Quando mentimos a uma mulher, voltamos a ser o menino desprotegido que não tem apoio no seu desamparo. A mulher, como as plantas, como as tempestades da selva, como o fragor das águas, nutre-se dos mais obscuros desígnios celestes. É bom sabê-lo bem cedo. De contrário, surpresas desoladoras nos esperam.
Os gaviões que gritam por cima dos precipícios e giram procurando a sua presa são a única imagem que me ocorre para evocar os homens que julgam, legislam e governam. Malditos sejam.
No Crac dos Cavaleiros de Rodes, cujas ruínas se erguem num alcantilado perto de Tripoli, existe um túmulo anónimo que tem a seguinte inscrição :"Não era aqui."»
Alvaro Mutis, A Neve do Almirante
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