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terça-feira, 12 de março de 2013
Porque odeia o sexo o Cristianismo mais tradicionalista?
Porque odeia o sexo o Cristianismo mais tradicionalista?
Não existe no judaísmo nenhuma rejeição ao sexo.
Também se sabe que o judaísmo pensava e pensa que uma das formas de glorificar a Deus durante o descanso sabático é a prática de sexo dentro do matrimónio precisamente nesse dia e em honra da festa e de Deus, que a estabeleceu.
Sendo esta a mentalidade judaica, é estranho que o cristianismo, herdeiro do judaísmo, tenha tido uma atitude tão adversa em relação ao sexo ao longo da história. E porquê? Por várias razões. Em primeiro lugar, porque o cristianismo não é apenas herdeiro do judaísmo que chamaríamos de «normativo», mas mais de um ramo apocalíptico e ascético dele. Segundo, porque o cristianismo nascente, sobretudo nas igrejas fundadas por Paulo - que depois da catástrofe do ano 70 d.C., com a destruição de Jerusalém e do seu templo e a dispersão do povo judeu pelos romanos - foram a maioria, tem uma grande componente de conceitos gnósticos; e, em terceiro lugar porque, como seita apocalíptica que foi nos seus começos, tinha o cristianismo uma forte consciência do fim eminente do mundo. Tudo isto, bem misturado, relativizava poderosamente o sexo dentro do movimento cristão.
Para quê preocupar-se com o sexo, quando o fim do mundo está ali ao virar da esquina? Qualquer leitor de Paulo, sobretudo da sua Primeira carta aos cristãos de Corinto, observará que esta ideia é determinante para explicar como o Apóstolo não condena o matrimónio, mas o considera como um mal menor, e como defende que a virgindade é um estado muito superior ao do matrimónio.
De seitas semelhantes ao cristianismo primitivo temos como exemplo os Essénios, que como é sabido só tomavam mulher com fins reprodutivos e imaginavam uma Jerusalém ideal, com o seu templo renovado, onde as mulheres não entrariam e as a união sexual dentro do matrimónio devia realizar-se fora das muralhas da cidade sagrada.
Quanto ao gnosticismo, é sabido que não se encontrava ainda totalmente desenvolvido na primeira metade do primeiro século da nossa era, quando vivem Jesus e Paulo, mas não é menos verdade que uma certa «atmosfera gnóstica» era predominante na religiosidade do Mediterrâneo oriental desse tempo. Segundo a gnosis, a melhor parte e a mais autêntica do ser humano é o espírito. Este é como uma centelha divina por procede do Deus transcendente. Essa centelha está prisioneira da matéria, isto é, do corpo do homem e neste mundo material. É lógico que a centelha divina deva retornar ao seu lugar. Este retorno constitui a salvação. A matéria e o espírito, o mundo de cima e o de baixo são inconciliáveis. O que recebe a revelação desde o céu e pretende salvar-se deve recusar e libertar tudo o que é material e corporal por meio da ascetismo. O sexo pertence à matéria, ao mundo de baixo e às trevas; não faz outra coisa que criar prisões carnais, o corpo, onde está acorrentado o espírito. É necessário libertar-se do corpo. Alguns ramos do cristianismo em formação, sobretudo nos séculos II e III, levaram até às últimas consequências estas doutrinas proclamando que o cristão que desejasse alcançar a salvação deveria abster-se totalmente do sexo: o matrimónio fica proscrito.
Tendo o cristianismo estes ingredientes no seu seio, não é de estranhar que, fiel aos seus princípios até hoje, e apesar das profundas mudanças de mentalidade, se observe nele, sobretudo no seu ramo católico mais tradicionalista, uma profunda aversão pelo sexo.
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