sábado, 26 de fevereiro de 2011

História: Endovélico, o deus dos Lusitanos




História

Endovélico, o deus dos Lusitanos

Descoberta arqueológica em Elvas

Endovélico, divindade céltica 

«CELTAS somos nós, sem dúvida, além do génio por sangue» disse um illustre escriptor contemporâneo.

Poder-se-ha admitir esta opinião num sentido tão absoluto? Nós intendemos que não - entretanto é certo que esta questão, como travada na da origem da lingua portugueza, tem sido objecto de largas discussões, em que hão tomado parte os mais distinctos dos nossos escriptores; trala-la nas columnas de qualquer jornal é impossível, e impróprio; contentar- nos-hemos, pois, hoje, com fallar da famosa divindade celtica que conhecemos pelo nome de Endovélico.

È já incontestável que os primitivos habitadores da península, seguindo o polyteismo, contavam este entre o número dos seus deoses.

Mas esta divindade tão famosa, de que tanto se tem escripto - e tão pouco se sabe - presidia a paz ou guerra?

A analyse philologica do vocábulo parece indicar-nos, que Endovélico era a divindade superior, adorada pelos celtas. «Estes e os povos que lhe confinam ao norte» diz Estrabão, «adoram o Deos sem nome no tempo da lua cheia.» 

End - radical em todas as línguas primitivas, e ainda hoje nas línguas do norte, significa o Ente-Supremo, o ente por excellencia, talvez, entre os celtas, o ente sem nome, a que se refere Estrabão. A radical Vel ou Bel, reunida a End, tem uma significação simiIhante, indica também uma divindade superior. Endovélico, denominação por que hoje distinguimos esta divindade, com quanto conserve as duas radicaes célticas, está já de certo adulterado pelos romanos, cujo systema politico, como ninguem lido ignora, era substituir a todas as civilisações a sua civilisação, a todos os cultos o seu culto, a todas as nacionalidades uma única nacionalidade - a nacionalidade romana. E não só o nome foi romanisado, mas ainda todas as inscripções, e cippos apresentados pelos antiquários Rezende, Cornide, etc., e que justificam a existência deste deos famoso, são romanas; em caracteres célticos, ou mesmo phenicios, cujas relações com os antigos habitadores da península ninguem duvida admitir - ou não existem, ou não se descobriram ainda, se é possível encontra-las.

Não se tem verificado - que nós saibamos - a existência de altares e outros monumentos de religião, que podessem esclarecer-nos na historia escura daquelles escuríssimos tempos. E não admira - todas as tradições religiosas dos primitivos povos eram tão simples, como era simples a sua civilisação. Todavia o sr. Garrett, quando no seu magnifico poema, Camões, descrevendo a serra de Cintra, em cujos contornos é mais que provável que estanceassem celtas - disse:

Céltico dolmin recordando o culto 
Do sanguentu Endovelico
o terrível lrimunsulf dos ferozes lusitanos 

exprimiu uma dúvida, que não está só no ânimo do poeta, senão no de todos quantos se tem aventurado no enredado labyrintho de investigações archeologicas, que assim se pode chamar tudo que diz respeito aos tempos que precederam a conquista dos romanos.

E com effeito quem poderá afoitamente dizer, que muitos dos penedos solitários e a pique que se topam pela extensa serra de Sintra, não são aras, ou altares; isto é monumentos religiosos dos celtas? 

Como já dissemos e repelimos, não é este o logar para tratar esta questão, alias muito curiosa - estas mal traçadas reflexões foram nos suscitadas pela leitura do documento que abaixo transcrevemosm como nos foi remetido de Elvas pelo digno correspondente da empreza.

CÓPIA DE UM ANTIGO MS., QUE EXISTE EM CERTA LIVRARIA EM ELVAS 

«Quando se fez a fortificação desta cidade, se achou no fosso que se fez no Revelim, que fica em frente das costas da Capella mór da Igreja do Hospital de S. João de Deos, huma pedra mármore em que está esculpida de meio- relevo, huma imagem ou figura de Cupido, com arco e seta, ao qual os Oficiaes que o desenterrárão, puzerão na face da parede do dito Revelim, que olha para o Rocio do Calvário (quondam - Campo de S. Sebastião), que parece ser figura de Endovelico, que assim lhe chamarão os antigos, edificando-lhe hum templo na Villa de Terena (que Júlio Cezar destruio), de pedras lavradas, a maior parte das quaes foi levada para Villa Viçosa, para a obra da Igreja dos Frades de Santo Agostinho, do que faz larga menção Manoel de Faria e Sousa no seu Epitome das Histórias Portuguesas.

1 comentário:

  1. Muito obrigado por este artigo e link para o dito livro.

    Gratitude.

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