História
Viseu
A Feira de S. Mateus
Alguns Notáveis de Viseu
Viseu é terra muito sadia, farta d'aguas d' excelente qualidade, e de todas as principais produções do nosso paiz.
Os subúrbios são férteis, amenos, e pitorescos. Em torno da cidade (Viseu) tudo são hortas e pomares abundantes d' agua. Mais longe estendem se frescos vales entre montes arborisados, entremeando-se os campos, que se cobrem de cearas, com as collinas assombradas d'oliveiras, castanheiros, e doutros arvoredos. Fertilizam e aformoseiam todos os terrenos do concelho de Viseu mil regatos, que se desprendem das montanhas e os rios Mondego, Vouga, e Dão, que, a légua e meia da cidade, vão correndo por mui aprazíveis vales.
D'estes rios vem á cidade (Viseu) algum peixe, e dos campos e montes bastante caça. As principais produções do concelho são cercaes, legumes, vinho (Viseu), azeite, frutas, e gados do que tem muita criação.
Nas cercanias de Viseu, em distancia de duas a tres léguas, existem minas d'estanho, e d' outros metais; encontram-se varias fontes d'aguas férreas e termais. A uma légua para o nascente, em Alcafache, tem a mais próxima fonte d'aguas sulphureas. A duas léguas tem as de S. Gemil; ambas na margem direita do rio Dão. A três léguas para o poente estão as da vila do Banho, igualmente thermaes. A três léguas para o norte, na raiz da serra de S. Salvador acha-se uma óptima nascente de águas férreas.
Viseu conta seis mil habitantes. A sua feira (Viseu) anual é a mais considerável de todo o reino. Começa aos 21 de Setembro, e dura mais de dez dias. Tem por assento o vasto rossio de Santo António, tambem chamado campo ou terreiro da Feira (Viseu), e que em tempos antigos teve o nome de rossio de Mançorim (Viseu). Este campo, com a sua extensa e formosa alameda, fica n' uma das extremidades da povoação e contíguo á Cava de Viriato (Viseu). Pois que é esta a maior feira do paiz, daremos uma breve noticia da sua origem.
Origem da Feira Franca de S. Mateus em Viseu
Querendo el rei D João I fazer mercê á cidade de Viseu, concedeu-lhe uma feira anual, livre de metade da siza. Começava aos 23 d' Abril, dia de S. Jorge, por ser este santo o orago da capela que então havia dentro da Cava, em honra do qual se fazia ali uma festa e a feira no campo vizinho.
Pelo tempo adiante levantaram-se taes duvidas e contrariedades por parte do governo, que deixou de fazer-se a feira.
El rei D. Duarte, no principio do seu reinado, deferindo a um requerimento dos moradores de Viseu, restabeleceu a feira, como a concedera seu pae. Tornando porém a aparecer as mesmas, ou outras oposições, apresentou a cidade de Viseu novo requerimento nas cortes, que o dito monarca celebrou em Évora no ano de 1436. Foi deferida a pretensão, menos na parte relativa á siza.
D'esta segunda provisão d'el rei D. Duarte colige-se que nessa época ainda existia dentro da Cava de Viriato uma povoação, e que esta se chamava Vila Nova. Fazia se então a feira dentro da Cava.
Havia anos que deixara de se fazer a feira (Viseu), no reinado de D. Afonso V, quando este soberano a solicitações de seu tio, o infante D. Henrique, a mandou restaurar, concedendo-lhe os mesmos privilégios que tinha a feira de Tomar, e ordenando que começasse em dia de Santa Iria, a 20 de Outubro e durasse quinze dias.
Data d'esta época o desenvolvimento d'esta feira (Viseu), devido não só áquelles privilégios, mas tambem aos esforços do infante D. Henrique para que ali concorresse o maior numero possível dos produtos das diversas industrias do paiz.
Em 1501 pediu a camara de Viseu a el rei D. Manuel que mandasse mudar a feira para dentro da cidade. Os fundamentos d'este pedido consta da provisão regia do dito soberano, onde diz: «... e que quanto he do que toca na feira, que nos aprouvesse se mudar pera dentro da dita cidade: porquanto por se fazer na cava, a par da dita cidade, se faziao nella coisas de pouco serviço de Deos e nosso, e de muita desonestidade, emais que por respeito do inverno, e lugar onde se a dita feira soia fazer, e era não conveniente pera ello, nos pediam por mercê, que nos prouvesse mandar mudar a dita feira pera dentro, porque por estes respeitos havia já quatro anos, que a dita feira se não fazia.»
Para obviar aos transtornos que a invernia causava aos feirantes, entrando a feira pelo mez de Novembro, determinou- se na citada provisão, que se tornasse a fazer a feira (Viseu) em dia de S. Jorge aos 23 d'Abril.
Passados bastantes anos, tendo aumentado consideravelmente a feira, de modo que já mal se accommodava no interior da cidade, foi transferida para o sitio onde ao presente se faz. A mudança da epoca, de 23 d'Abril para 21 de Setembro, dia em que actualmente principia, foi sem duvida resultado de varias considerações económicas, tanto para facilitar a concorrencia dos lavradores, que no outono estão mais desembaraçados dos trabalhos rurais, como para dar ensejo a que concorram áquelle grande mercado os géneros das colheitas d' esse ano.
A demarcação da feira (Viseu), e os proventos das licenças, e renda dos terrenos, foram dados por D. Afonso V ao infante D. Henrique duque de Viseu. Por morte d'este príncipe usufruíram-n'os os duques seus sucessores, até que pela extinção d'este ducado passaram para a coroa. Não temos certeza de quando entrou n'essa administração a câmara de Viseu, mas como a vemos entrada n'essa posse no ano de 1501, supomos que foi el rei D. Manuel que lhe fez essa mercê em atenção à falta de rendimentos que a câmara tinha.
Ilustres nascidos em Viseu
Foi berço esta cidade de muitos homens ilustres, cujos nomes formariam um longo catalogo. Apontaremos unicamente os que nos lembram agora. El rei D. Duarte, nascido em 1391 e falecido em 1438; João de Barros o grande historiador da Índia, autor das Décadas; Gaspar Barreiros, sobrinho do antecedente, também escritor distinto do século XVI, o qual deixou entre outras obras estimáveis, a Corografia de alguns lugares que es tam em um caminho, que fez Gaspar Barreiros o anno de 1346, começando na cidade de Badajoz té a de Milan em Italia; Antonio Reynoso, medico afamado do tempo d el rei D. João III, lente da universidade de Coimbra, e muito versado nas línguas latina grega e árabe. Gabriel da Fonseca, que foi um dos mais celebres médicos da Europa no século XVII. Foi lente de medicina na universidade de Piza, na Itália, e depois na da Sapiência em Roma, onde o tiveram por seu primeiro medico os papas Innocencio X e Alexandre VII. Morreu em Roma no ano de 1668 deixando impressas algumas obras que compoz sobre medicina.
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Viseu, História e imagens antigas
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