quarta-feira, 15 de junho de 2011

História: Da origem e fundação do castelo de Tomar pelos Cavaleiros do Templo (I)

História

Tomar

Da origem e fundação do castelo de Tomar pelos Cavaleiros do Templo

1ª Parte

Entre as ordens famosas de cavalaria, que o entusiasmo religioso e guerreiro dos cruzados na Palestina fundaram em Jerusalém por principios do seculo XII se distinguiu em valentía militar, e em dedicação cavaleirosa e devota, a dos templarios. De pequenos princípios com o instituto, ou antes propósito no começo limitado e restricto, de dar escolta e gasalhado aos peregrinos, pouco a pouco estenderam suas tarefas, tomaram- se belicosos, numerosos e fortes; fizeram soar alto na Europa, dominada então dos mesmos principios, a relevância da sua profissão; e passados anos, no concilio de Troyes, em que assistiu S. Bernardo, o zeloso fautor da cruzada, se aprovou a Ordern do Templo no ano de 1128.

A fama da generosa valentía, e da vida regular e monástica destes briosos guerreiros, não podia deixar de encontrar simpatias no nascente Portugal, resgatado havia pouco do jugo sarraceno. De crer é que o próprio conde Henrique, voltando da Síria, desse as primeiras noticias desta nova criação; o certo porém é que já no governo de sua viúva a rainha D. Teresa, se encontram templários estabelecidos no país. Parece que a casa principal da Ordern entäo era em Braga; mas tinham propriedades cm varias outras terras da provincia de Entre Douro e Minho, e a mesma rainha lhes havia doado a vila de Fonte-Arcada de Penafiel no ano de 1126. Depois da aprovação e confirmação da Ordern no ano sobredito de 1128, lá foram os cavaleiros do Templo afrontar os mouros na sua mesma fronteira, e guardar o castello de Soure, que aquela princesa e seu segundo marido D. Fernando da Trava, lhes doaram com o território adjacente em terra deserta na Estremadura para o cultivarem e povoarem; e o principe D. Afonso, que nesse mesmo ano havia tomado o governo a sua mãe, lhes confirmou a dita doaçâo, declarando na mesma carta da concessâo fazer isto «pelo muito amor que tinha aos cavalleiros do Templo, e porque era seu confrade.»

Passaram anos de continuas guerras, que era o emprego anual do infatigável príncipe; conseguirá ele levantar o forte castelo de Leiria, defendiam-lhe os templários a retaguarda deste porto avançado, e daí em uma noite, acompanhado de 150 bravos aventureiros, em que se contavam alguns daqueles, cometeu aquella briosa e admiravel surpresa de Santarém de que se assenhoreou no ano de 1147. Na marcha desta memorável jornada, no meio das profundas e agras meditações que lhe de viam inspirar as dificuldades mesmas da empresa, e os riscos a que se expunha a si e aos outros, fez voto a Deus de dar aos cavaleiros do Templo e á sua Ordern todos os direitos eclesiásticos de Santarém, se fosse feliz na tentativa. Verificou-se ela venturosíssimamente, e os templários em princípio da sua posse entraram de levantar a igreja de Santa Maria da Alcaçova, e a cuidar do seu novo estabelecimento, tanto mais querido quanto es tava nas fronteiras dos inimigos da cruz. Porém este projecto se desvaneceu anos depois; porque restaurada Lisboa, em 1147, o bispo D. Gilberto reclamou a integridade de seus direitos diocesanos, disputou Santarém aos templários, seguiu-se encarniçado litigio que durou muito tempo. Ainda nisto achou o cuidadoso e prudente monarca arbítrio para resalvar os primores da sua palavra real, e concordando os dissidentes substituiu por outra mais ampla a doação controvertida; fez com que os Freires desistissem de Santarém, conservando apenas por memória a igreja de Santiago, e doou- lhes o castelo de Ceras com largo territorio adjacente. Já por este tempo era Mestre do Templo o famoso D. Gualdim, o qual, partindo com os seus Freires ao dito castelo, e achando-o mal colocado para os fins da instituição da Ordem, entrou de levantar outro em Tomar, ponto central e mais acommodado para a povoação e defesa de seus vastos dominios. As circumstâncias do local com efeito demonstram a sabedoria daquela preferência. Uma concha ou enseada abrigada de montes com suficiente capacidade, regada pelas plácidas e cristalinas águas do Nabão, era ali azada para uma boa povoação; um padrasto que ali vizinho, numa das extremidades da concha, se elevava alcantilado, convidava a coroá-lo com forte castelo; e as mesmas tradições religiosas do sitio o faziam venerando, e reclamavam a restauração do culto católico. Fora ali o nascimento e o martírio de Santa Iria; existia o celebrado pego em que seu corpo foi arrojado á corrente; e em Santa Maria dos Olivais existiría talvez ainda algum resto do templo antigo, e do mosteiro de monges beneditinos que o habitaram desde os tempos góticos. D. Gualdim fez reparar a igreja que dedicou para os ofícios religiosos de seus Freires ali conventuais, e edificou para defesa de todos o fortíssimo castelo com suas torres e muralhas, que ainda hoje se observam em pé e quase direitas através de quase 7 seculos, porque nas ameias de seus baluartes estiveram sempre esculpidas ou talhadas as Cruzes vitoriosas de duas ordens venerandas.

Construido o castelo de Tomar e restaurada a igreja de Santa Maria dos Olivais, ali ficou sendo a casa capitular e cabeça da Ordem do Templo, e esta teve no decurso do reinado d'elrei D. Afonso I um incremento e preponderância admirável. Os créditos e serviços dos cavaleiros, e a relevância da pessoa do seu chefe acarretaram-lhe doações, privilégios, e senhorios de castelos, vilas, e territórios que seria longo enumerar. Na província da Estremadura somente teve a Ordem do Templo, até o ano de 1185, em que faleceu aquele soberano, os castellos seguintes e suas dependências: Soure, Ega, Redinha e Pombal, resultado das primitivas doações da rainha D. Teresa e de seu augusto filho, Tomar, Ceras, Zezere e Almourol; de ma neira que aos denodados cavaleiros do Templo, como que estava confiada a guarda e defesa da Estremadura, tendo estes na mão as chaves das duas portas, por onde nela podiam penetrar os mouros: uma sobre o Zezere para os que viessem da Beira baixa, e a do Tejo em Almourol aos que da Andaluzia penetrassem pela provincia do Alentejo. Uma só prova, entre muitas que poderiamos apontar, decide da grande confiança daquele mesmo soberano nos cavaleiros do Templo; e foi ela dada em ocasiäo especial. Havia a fortuna urna só vez voltado as costas ao venturoso monarca: um acidente imprevisto ao saír a porta de Badajoz lhe fez perder urna batalha e a liberdade, ficando prisioneiro de seu sobrinho D. Fernando, rei de Leão; conduzido mal ferido a Avila aí negociou a paz ,e veio pouco depois fazer uso das caldas de Lafões em curativo de sua moléstia, Era este lento e demorado, e picavam ao incansável soberano os cuidados da defesa do Alentejo, e da guerra, que por aquele lado era forçoso sustentar; lembrou-se dos seus valentes templários de Tomar, e chamando о Mestre D. Gualdim encarregou-o e á sua Ordem da defesa daquela provincia, e do proseguimento da guerra, dando e doando desde logo à mesma Ordern a terça parte de tudo quanto se ganhasse e estendesse por aquele lado. Esta notável doaçao foi feita e assinada nas ditas caldas de Lafões em setembro do anno de 1169.

Continua


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