Grande incêndio em Viseu, Portugal

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Grande incêndio em Viseu - 1842

HORRÍVEL INCÊNDIO 

Extracto de uma carta de Viseu

Havia aqui uma lavandeira que fazia todos os quinze dias a sua barrela dentro em casa; estando neste mister, salta-lhe o fogo ao tecto; a imprudente, em vez de bradar por socorro, fecha portas, e sózinha, com algumas tigelas de água forceja por domar as chamas. Desenganada do seu erro, colhe à pressa as suas preciosidades, e foge; deixando já bem vingada a semente de um incêndio, que ajudado do vento não tarda em se derramar pela vizinhança.

Muitas casas ficaram ruínas; o aspecto do bairro faz lembrar a recente catastrofe de Hamburgo. A maior parte dos moradores tiveram ainda modo e tempo de salvar os seus cabedaes de mais substancia; e graças á Providencia nenhuma pessoa pereceu.

As brasas que dos edifícios a arder se despediam, levavam tal fúria, que iam incendiar a outros prédios apartados, que, a lhes não andar acudindo a vigilância de seus donos, bem houveram multiplicado a calamidade; até a uma quinta remota um quarto de legua chegaram, algumas muito grandes e acesas.

Toda a cidade correu grande risco; os edifícios da rua nova, fronteiros aos que ardiam, só á custa de grandes fadigas se defenderam. A esta desgraça acresceu a que de ordinário lhe auda anexa, a dos roubos.

Uma coincidência, em que não deixou de se fazer algum reparo, foi que todas as casas que ficaram em cinzas, eram as mesmas que já na invasão francesa haviam padecido igual desgraça.