sexta-feira, 16 de setembro de 2011

História de Aveiro e antigo brasão (imagem de 1860)



História de Aveiro e antigo brasão (imagem de 1860)

A CIDADE DE AVEIRO

Assentada em terreno de mediana elevação a cidade de Aveiro espelha-se nas águas de uma vasta ria, formada pelo rio Vouga, cuja foz lhe fica vizinha, e pelas ondas do oceano que, entrando por um esteiro em frente da cidade, lhe dão a vantagem de possuir um porto de mar, muito bom em outros tempos, e na actualidade bastante obstruído de areias. Está situada em distancia quase igual dos rios Douro e Mondego, pois dista do primeiro dez léguas para o norte, e do segundo nove para o sul.

Abstraindo dessas historias meio incertas, meio fabulosas, com que os nossos geógrafos falam dos primeiros povoadores desta terra, há todo o fundamento para crer que, durante a dominação dos romanos na Lusitânia, havia ali uma cidade florescente, com o nome de Talabriga.

Com as invasões, que se sucederam á queda do império romano, e talvez ainda mais com a terrível inundação dos sarracenos que destruiu em toda a península ibérica a monarquia dos godos, arruinou-se e despovoou-se completamente aquela cidade. E assim permaneceu por muitos séculos, pois que só no décimo quinto é que foi reedificada e novamente povoada pelo infante D. Pedro, duque de Coimbra, e filho del rei D. João I, sendo regente do reino na menoridade de seu sobrinho D. Afonso V.

DESENVOLVIMENTO

Por essa ocasião, não passando de uma simples vila foi cingida de altos e fortes muros ameiados; porém a população, no seu crescente desenvolvimento, transpôs os limites que a apertavam, e dilatando-se para o norte e para o sul, formou arrabaldes cheios de boa casaria, que não tardaram a constituírem-se em novos bairros da vila.

Em 1515 deu-lhe foral el rei D. Manuel, concedendo-lhe muitos privilégios e isenções. E a prospero estado chegou nesse século, graças á capacidade que então tinham o seu porto; e a sua barra, que no ano de 1550 contava doze mil habitantes, e possuía mais de cento e cinquenta navios, pela maior parte de alto mar, expedindo todos anos não menos de sessenta para a pesca do bacalhau nos bancos da Terra Nova, e mais de carregados de sal para diversos portos.

DECADÊNCIA

O chuvoso e tempestuoso inverno de 1575, obstruindo- lhe de areias o porto e a barra, deu principio á sua decadência. Com o decurso do tempo agravou-se de tal sorte este mal, que a sua barra, removida pelo movimento das areias quinze milhas mais para o sul, tornou-se difícil e perigosa; os fertilissimos campos de Aveiro que chegaram a produzir, em alguns anos, trinta mil moios de trigo, e as suas celebradas marinhas, donde tiravam anualmente de doze a dezasseis mil moios de sal, ou se esterilizaram, cobrindo-se das mesmas areias, ou alagados se converteram em terrenos pantanosos e insalubres, que tanto concorreram para se ir despovoando Aveiro.

RENASCIMENTO

No principio deste século tratou seriamente governo de prover de remédio a tão grande mal, encarregando o brigadeiro Oudinot, e o tenente coronel Luiz Gomes de Carvalho, dois engenheiros distintos, de confecionarem um plano de conducente ao fim proposto. Encetaram-se os trabalhos em 1802 e concluíram-se em 1808, deixando construído um dique de mil duzentas e dez braças de comprimento, setenta e dois palmos largura, e altura superior ás mais elevadas marés; em cuja obra se despendeu mais de cem contos réis.

Com este dique melhorou muito o porto e a barra, e por conseguinte melhoraram também os campos e as marinhas de sal. Animou-se o comercio e a navegação, e Aveiro, então já elevada categoria de cidade e sede episcopal por el D. José, readquiriu em grande parte os dias da sua passada prosperidade. Todavia, como que se acabou aquela importante obra hidráulica não se cuidou mais da sua conservação, tornaram as areias a acumular-se no porto e na barra, com grave prejuízo da navegação e comercio. Há tempos que se empreenderam, e continuam ao presente, trabalhos de melhoramento.

A CIDADE DE AVEIRO

Divide se a cidade de Aveiro em cinco bairros, contando entre estes o chamado arrabaldes. O mais antigo, ainda se vê cingido com os muros que lhe levantou o infante D. Pedro, duque de Coimbra. Um esteiro, ou braço de mar, separa a cidade em duas partes, facilitando a comunicação duas pontes de pedra, sendo uma delas de melhor fabrica.

IGREJAS E CONVENTOS

Tem quatro igrejas paroquiais; a sé, no bairro antigo; a da Vera Cruz, que é um bom templo de três naves no bairro do norte; a do Espírito Santo, de antiga arquitectura, no do sul; e a de Nossa Senhora da Apresentação, que outrora tinha por orago a S. Gonçalo, edificada no lado do sul. Nos distritos destas freguesias há quatorze ermidas.

A igreja da Misericordia, de arquitectura moderna, é um grande e belo templo; e o seu hospital é também um bom edifício.

Conta a cidade de Aveiro seis conventos, três de freiras, que ainda estão povoados, e três que pertenceram ás extintas ordens de religiosos. Daqueles o mais autorizado é o real mosteiro de Jesus, de religiosas dominicanas, no qual lançou a primeira pedra el rei D. Afonso V, no ano de 1462, e aonde depois se recolheu sua filha a princesa Santa Joana, falecendo no habito de freira, mas só com voto simples, por lhe não consentirem votos solenes, em razão de ser herdeira presuntiva da coroa na falta de seu irmão, o príncipe D. João, depois rei segundo do nome. O corpo da santa princesa está num rico sepulcro.

O convento da Madre de Deus, de religiosas da terceira ordem de S. Francisco, edificado em 1644, em cuja igreja se admira um belo retabolo.

O convento de S. João Evangelista, de religiosas carmelitas descalças, fundado em 1658 pelo duque de Aveiro, D Raimundo de Lencastre, nos Paços que aí possuía. Está situado na parte mais antiga da cidade, forma um grande quadrado, com quatro frentes apalaçadas, que terminam em quatro torreões mais elevados e pontiagudos.

Os conventos de frades eram os seguintes: o de Nossa Senhora da Misericordia, fundado dentro dos muros pelo infante D. Pedro, duque de Coimbra, no ano de 1423; e fora deles, o de Santo António, de frades menores da Província da Soledade, com uma linda cerca abundante de agua e arvoredos, edificado em 1524 e reconstruído nos anos de 1564 e 1583; o de Nossa Senhora do Carmo, de carmelitas descalços, também com bonita cerca, fundado em 1613 por D. Brites de Lara, mulher de Pedro de Medicis, irmão do grão duque de Toscana.  A igreja deste convento é vasta e está construída com grandeza. Na capela mor, do lado do Evangelho, descansa a fundadora num magnifico mausoleo de mármores de cores.

No bairro antigo há um recolhimento de terceiras de S. Francisco, e junto do convento de Santo António uma igreja de terceiros também de S. Francisco.

Aveiro tem casas nobres de agradável aparência, bom cais de pedra, aonde chegam os navios, alfandega, e um passeio formosíssimo, tanto pelas árvores gigantescas que o adornam, como pelas vistas aprazíveis, que dele se desfruta. É uma frondosa alameda situada na parte alta da cidade entre a porta de Vagos e o convento de Santo António.

A cidade é abastecida de agua por cinco fontes, das quais a principal é a da Ribeira, que serve de ornamento a uma praça junto do esteiro. Vem-lhe a agua de longe, por um bom aqueduto sobre arcos.

SUBÚRBIOS

Os subúrbios de Aveiro são mui formosos pelas hortas, quintas, arvoredos e fontes, que neles há, e pelos lindos panoramas que de muitos pontos se desfrutam. A ria, com as suas nove léguas de comprimento, desde Ovar até Mira, correndo paralela ao oceano, e apenas separada dele por uma larga restinga de areia, e continuamente sulcada por uma infinita quantidade de barcos de diversos tamanhos e feitios; vastas campinas, retalhadas pelos esteiros ou braços que a ria alonga por essas planícies sem fim, parte cultivadas, parte aproveitadas em marinhas de sal; ao longe a imensidade do oceano; e para o interior bosques e serras longínquas, elevando- se umas sobre outras em anfiteatro; tais são os variados quadros que se gozam dos sítios mais altos da cidade e dos seus arrabaldes.

O termo de Aveiro é fertilissimo. Tem boas pastagens aonde se criam muitos gados, e entre estes excelentes cavalos. Produz grande copia da cereais, arroz, legume, vinho e frutas. Porém o sal e as pescarias constituem as suas mais valiosas produções, e o ramo mais importante do seu comercio. Em 1851 o distrito de Aveiro produziu mil quatrocentos quarenta e cinco moios de arroz, e vinte mil quatrocentos quarenta e cinco moios de sal. Nesse ano demandaram o seu porto duzentos e cinquenta navios e embarcações costeiras, cujas toneladas perfazem a soma de quinze mil oitocentas e quarenta; e saíram trezentos e dezoito.

FEIRAS

Aveiro tem duas feiras anuais muito concorridas e de bastante movimento comercial, uma aos 25 de Março e a outra no 1 de Novembro.

CAÇA

Todas as cercanias da cidade são abundantissimas de caça, principalmente de aves aquáticas e de arribação, de diferentes espécies, que ás vezes cobrem as ilhotas e esteiros da ria. E desta prodigiosa quantidade de aves, querem os etimologistas que se derive o nome da cidade.

PRIVILÉGIOS

No antigo regímen gozava Aveiro da prerogativa de enviar procuradores ás cortes, os quais tinham assento no banco sétimo; e além deste desfrutou muitos e singulares privilégios concedidos por quase todos os nossos soberanos desde el rei D. Dinis, que fez as primeiras diligencias para atrair moradores ás ruínas da antiga Talabriga, até el rei D. João IV. Aveiro conta uns quatro mil e duzentos habitantes.

BRASÃO

O seu brasão de armas, como se acha na Torre do Tombo, de onde é copiado o desenho que se vê, é, num escudo sobre campo verde, duas estrelas, duas meias luas, e um cisne sobre agua. Entretanto em diversas obras que temos à vista achamos a seguinte descrição das suas armas: «No meio do escudo as quinas reais; do lado direito uma águia parda com as aSas estendidas (que se colige lhe dariam os romanos), metida entre duas meias luas, e duas estrelas prateadas e postas em aspa (insígnias sem duvida das navegações dos seus naturais); e no lado esquerdo, a esfera de el rei D. Manuel, que lhe deu o foral no ano de 1515.»

ILUSTRES AVEIRENSES

Aveiro foi pátria de muitos varões, que se distinguiram por actos de virtude, por letras e saber, por viagens e descobrimentos e, enfim, por acções de coragem e valor. Iríamos muito longe se pretendêssemos fazer o catalogo dos seus nomes e obras. Diremos, porém, que aos filhos de Aveiro se deve a descoberta da península na costa setentrional da América, chamada a Terra Nova, aonde depois foram por longa serie de anos fazer a pesca do bacalhau, com grande proveito seu e utilidade da sua cidade natal.

Aquele celebre navegante, João Afonso de Aveiro. que tão importantes descobrimentos fez na costa de África durante o reinado de el rei D. João II, era natural d Aveiro. Foi este intrépido viajante que. entranhando-se pelo sertão de África, e trazendo de lá a Portugal mui curiosas noticias, amostras de varias produções do oriente, e um embaixador do, pelo vulgo denominado Preste João, fez nascer o primeiro pensamento da descoberta da carreira da Índia, que o imortal Vasco da Gama teve a fortuna de realizar no seguinte reinado.

Por Ignacio de Vilhena Barbosa


***
Pelo Censos de 2011 Aveiro possui 78 463 habitantes


Aveiro, conhecida como a "Veneza de Portugal" e por algum tempo chamada de "Nova Bragança", é cidade capital do Distrito de Aveiro



As freguesias de Aveiro são as seguintes:
Aradas, Cacia, Eirol, Eixo, Esgueira, Glória, Nariz, Nossa Senhora de Fátima, Oliveirinha, Requeixo, São Bernardo, São Jacinto, Santa Joana, Vera Cruz



Eleições Autárquicas - 11/10/2009


Votação por Partido em AVEIRO


PSD/PP - 19228/53,7% - 6 mandatos
PS - 11865/ 33,1% - 3 mandatos


Candidatos Eleitos pelo Circulo: Aveiro


PPD/PSD . CDS-PP - Élio Manuel Delgado da Maia
PS - José da Cruz Costa
PPD/PSD . CDS-PP - Maria da Luz Nolasco Cardoso
PPD/PSD . CDS-PP - Carlos Manuel da Silva Santos
PS - João Francisco Carvalho de Sousa
PPD/PSD . CDS-PP - Pedro Nuno Tavares de Matos Ferreira
PS - Helena Maria de Oliveira Dias Libório
PPD/PSD . CDS-PP - Ana Vitória Gonçalves Morgado Neves
PPD/PSD . CDS-PP - Miguel Alexandre de Oliveira Soares e Fernandes

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