sexta-feira, 16 de setembro de 2011

História do Alvito (Alentejo) e dois brasões antigos (imagens de 1860)





 
História do Alvito e dois brasões antigos (imagens de 1860)

Alentejo

No coração da província do Alentejo, seis léguas sudoeste da cidade de Évora e quatro nor-noroeste da de Beja, está a vila de Alvito, assentada em campo chão.

Nos primeiros tempos da monarquia havia nesse sitio uma herdade chamada de S. Romão, pertencente parte ao senado de Évora, e parte aos Pestanas, descendentes de Giraldo sem Pavor. Reinando D. Afonso III, por comum acordo das partes interessadas, foi dada esta herdade ao chanceler mor do reino, D. Estêvão Annes, colaço daquele soberano, que a principiou a cultivar e depois foi edificando nela algumas casas que alugava a uns e dava a outros. Teve isto lugar pelos anos de 1255, e sete anos depois, já havia naquela propriedade tantos moradores, que Estêvão Annes lhe edificou uma igreja, que passado pouco tempo foi erecta em paroquia com o titulo de S. Romão.

Tal foi o principio da vila de Alvito, a qual D. Afonso III, passando por ali em 1265, lhe deu alguns privilégios. Por sua morte, deixou o chanceler mor todas estas suas propriedades aos religiosos da Santíssima Trindade, que logo trataram de ir aforando os terrenos a quem queria edificar, com o que se aumentou muito a povoação.

Quanto á etimologia do seu nome, dizem que é a seguinte. Por ocasião de uma festividade que ali se fez, no começo da povoação, em que havia corrida de toiros. fugiu um destes animais, lançando nos circunstantes grande perturbação. Debalde andaram por algum tempo em procura dele. Já todos estavam cansados e descoroçoados, quando apareceram alguns homens com o toiro agarrado gritando «alvitre, alvitre», por alvissaras. Foi de todos tão bem recebida e festejada a nova que esta palavra anunciava, que ficou por nome á terra, donde ao diante, por corrupção, se pronunciou Alvito.

Foram os frades trinos que lhe deram o seu primeiro foral, no ano de 1321, o qual el rei D. Dinis, depois de lho ter contestado por muito tempo, confirmou finalmente em 1327.

Tendo crescido muito o numero dos habitantes, e sendo já pequena para eles a igreja de S. Romão, construiu-se um novo templo para paroquia, que foi consagrado a Nossa Senhora da Assunção, ficando a antiga como uma simples ermida. É a nova igreja, de três naves, bem ornada e muito espaçosa. Nela têm seu jazigo em duas capelas, onde avultam bons mausoléus de mármore, os condes barões de Alvito, que foram senhores desta vila.

Em 1618 fundaram os frades trinos um convento junto á igreja de Nossa Senhora da Assunção, que ficou servindo simultâneamente de paroquia e de casa de oração dos frades. Além desta igreja, conta Alvito a da Misericordia, com hospital anexo, e nove ermidas na vila e arrabaldes, em cujo numero entra a de S. Romão, que se acha fora da vila, mas a pouca distancia e que foi a sua primeira igreja matriz.

A casa da câmara é um bom edifício construído nos princípios do século passado (18). Tem uma alta torre de relógio, toda de cantaria. Está no centro da vila, no ponto mais elevado.

O monumento, porém, mais notável desta vila, é o seu castelo, obra de el rei D. João II, que fez dele doação a João Fernandes da Silveira, primeiro barão do Alvito, chanceler mor do reino, escrivão da puridade, vedor da fazenda, e por dez vezes enviado embaixador a diversas cortes da Europa. É um palácio acastelado, com cinco torres em bom estado de conservação, que pertence ainda hoje, e outrora foi residência habitual dos senhores condes barões do Alvito.

Junto d esta vila corre a ribeira de Odivelas, que tem aqui uma bela ponte de cantaria e produz algum peixe. Tanto na povoação como nos seus subúrbios há muita abundância de agua, não só para os usos domésticos, mas também para as necessidades da horticultura e para o emprego de muitas azenhas. Por esta razão, há em torno da vila bastantes hortas e pomares que fazem os arrabaldes amenos e agradáveis.

Nestes, perto da vila, fundaram os barões de Alvito, para os religiosos de S. Francisco da província dos Algarves, um convento que dedicaram a Nossa Senhora dos Mártires, o qual se concluiu em 1534 e que, exactamente três séculos depois, ficou devoluto pela extinção das ordens religiosas.

No ano de 1743, andando-se a abrir os alicerces para a nova capela mor da igreja, por ser a antiga pequena e estar arruinada, achou-se, no dia 8 de Junho, um túmulo formado de adobes, dentro do qual se encontrou um esqueleto que, segundo dizem as memorias do tempo, tinha quatorze palmos de comprimento, e junto dele três pequenas barras de um metal desconhecido. Em uma pedra de cinco palmos de comprido e dois de largo, que estava sobre o túmulo, lia se a seguinte inscrição: Hislonencas Selsas Florentis D.D.


Noutra parte do alicerce, encontraram se três pedras com cinco palmos e mais de comprimento, todas do feitio de pipas maciças, e com inscrições sepulcrais. No ano de 1745, numa escavação próxima deste sitio, achou-se outro cippo análogo.


Neste lugar, conforme a opinião de alguns antiquários, existiu uma povoação de origem céltica, que floresceu no tempo da dominação romana e que foi completamente destruída por ocasião das invasões dos suevos, alanos e mais nações do norte, ou no tempo da dos moiros.

O termo do Alvito é povoado de muitos olivais e montados. Tem muita caça e criação de gados, e abunda em azeite, cereais, frutas e mel. Tem uma feira de três dias que principia no 1º de Novembro. A sua população anda por duas mil almas.

Estando em Alvito el rei D. João III e a rainha D Catarina, no outono de 1531, deu esta soberana á luz, no 1º de Novembro, o príncipe D. Manuel, que morreu menino. Foi o primeiro filho que tiveram, e por este motivo, em cumprimento de um voto, mandou el rei fazer o magnifico retábulo de jaspe que se admira na igreja de Nossa Senhora da Pena em Sintra, que pertenceu ao convento dos frades Jerónimos e agora é capela do palácio de el rei o Senhor D. Fernando.

Tinha a vila do Alvito voto em cortes com assento no banco décimo oitavo. O seu brasão d armas é em campo vermelho, o escudo real, só com as quinas entre dois troncos de árvore, que rematam em duas únicas folhas e firmados sobre um arco de ponte.

Por Ignacio de Vilhena Barbosa

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Pelo Censos 2011 Alvito possui 2523 habitantes

Alvito é uma vila do Distrito de Beja


1 comentário:

  1. Relativamente à inscrição encontrada, no "archeologo Português", pág. 117, alinea q) a indicação é que a inscrição de 1743 foi descoberta em Nossa Senhora de Ayres,

    http://bibliotecas.patrimoniocultural.gov.pt/oarqueologo/OAP_S1_v5_1900/OAP_S1_v5_1900_150dpi_pdf/p115-120/p115-120.pdf

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