História das Ordens Religiosas em Portugal - Bernardos ou ordem de Cister
Não menos que três famosos Santos foram os Fundadores desta esclarecida Ordem em Portugal. O glorioso Precursor S. João Baptista, aparecendo visivelmente a S. Bernardo, estando este em Claraval, no ano de 1119 e revelando-lhe que seria muito do agrado de Deus que ele mandasse fundar neste nosso Reino um Convento da sua Regra. Pôs logo em execução o Melífluo Santo o que lhe fora insinuado e, escolhendo alguns Religiosos de exemplar vida, chamados Boemundo, Aldeberto, João, Bernardo, Sesinando, Rolando e Alano, os enviou com uma carta de recomendação ao Santo João Cerita, que fazia vida solitária numa Ermidinha no território de Lafões, pouco distante do rio Vouga, onde se fundou depois o Convento de S. Cristóvão.
A este Santo Anacoreta também lhe foi revelado pelo mesmo Santo medianeiro, o intento e vinda dos Religiosos e o quanto era conveniente que ele, como prático da terra, os instruísse. Chegados que foram, conduziu-os à Corte, que então era em Guimarães e à presença del Rei D. Afonso Henriques, a quem comunicou tudo; o qual, como Príncipe muito Católico, não tendo diante dos olhos mais que o aumento do culto Divino, estimou muito aos Religiosos franceses - da terra de seu pai -, e lhes deu ampla licença para fundarem Convento no seu Reino e no lugar que o Céu determinasse, conforme as instruções que lhes havia insinuado o seu Santo Prelado.
Com esta faculdade partiram de Guimarães e chegaram ao rio Barosa, que corre pouco mais ou menos légua e meia distante de Lamego e, na descida de uma serras, onde agora chamam Pinheiro, fizeram quatro celas e uma Ermida, que dedicaram à honra do Salvador do Mundo e aqui os deixou o Santo Eremita João; e eles, em continuas orações e jejuns ficaram esperando o sinal do Céu para a sua nova fábrica. Em breve tempo viram cumpridas as suas esperanças, porque a 13 de Abril de 1121, junto daquele sítio, desceu um resplendor a modo de raio, que de noite alumiava todos aqueles montes em circuito.
Reconhecido tão ser aquele o sinal do Céu prometido, cercaram com balizas todo aquele terreno, em que a claridade se estendia e ali fundaram o primeiro Convento da Ordem neste Reino, dedicando-o a S. João Baptista e lançando a primeira pedra nos alicerces o rei D. Afonso Henriques a 21 de Junho de 1122, achando-se presente o Bispo de Lamego, que benzeu a pedra e o Santo Abade João Cerita com outros Religiosos. Depois se foram estabelecendo os mais Conventos, sendo o de Alcobaça um dos mais magníficos e opulentos do Reino, em cuja primitiva fundação chegaram a viver juntos novecentos e noventa e nove Religiosos.
Porém, como em tanta multidão sucedia haver algum embaraço, porque não cabiam todos no Coro, nem no Refeitório, nem um só Prelado podia dar assento a tantos súbditos, dividiram-se em Décadas ou decanias, dando-se a cada dez Religiosos um velho por Prelado e, com esta repartição nunca faltavam no Coro aos Divinos louvores de dia e de noite em todas as horas. Verdade seja que, segundo a melhor opinião, estes Monges não viviam todos juntos no mesmo Convento de Alcobaça, mas divididos em diferentes quintas e lugares circunvizinhos e se juntavam na Igreja para rezar e celebrar alternadamente os Divinos Ofícios em todas as horas.
Durou este celestial concerto muitos anos sem interpolação alguma, até que veio a afrouxar e diminuir por causa de uma peste que afligiu o Reino e assim esteve interrompida esta perene assistência do Coro durante algum tempo; depois, no ano de 1672, sendo Geral da Ordem o Padre Frei António Brandão, introduziu novamente este santo e louvável estilo, dividindo os Religiosos em turmas, cada uma de seis, que sem interrupção estão continuamente louvando a Deus de dia de de noite; e depois que todos os Conventos de Cister foram unidos em Congregação pelo Papa S. Pio V, no ano de 1580, a instâncias del Rei D. Sebastião e do Cardeal Henrique, ficou o Convento de Alcobaça constituído cabeça da Ordem.
Governa-se ela por um Abade, que ordinariamente assiste em Alcobaça e de tempo imemorial anda nele anexo o título e preeminência de Esmoler-Mor del Rei. Trata-se com insígnias de Bispo e é Senhor no espiritual e temporal de treze vilas e muitos lugares, que caem debaixo do seu senhorio, nas Igrejas das quais apresenta Benefícios simplices e Curados.
Até ao reinado de D. João III visitava o Abade a ordem Militar de Cristo; hoje é o Abade Geral de toda a ordem de Cister imediato ao Papa e absoluto reformador de todos os Mosteiros que há da sua Religião neste Reino.
Até ao governo do Cardeal Henrique foram Abades perpétuos, depois se começou a eleição dos trienais, que presentemente se usa.
A Ordem de Cister em Portugal consta dos seguintes Conventos
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