terça-feira, 4 de outubro de 2011

História das Ordens Religiosas em Portugal - Brunos ou Cartuxos

História das Ordens Religiosas em Portugal - Brunos ou Cartuxos

A Sagrada e admirável  Religião da Cartuxa tomou o nome de um deserto assim chamado na Diocese de Grenoble, em França, onde S. Bruno, natural de Colónia, a fundou no ano de 1084. Até ao ano de 1587 não se conhecia em Portugal esta Religião, cuja notícia e entrada devemos às piedosas diligências do Senhor D. Teotónio de Bragança, filho do Duque D. Jaime e de D. Joana de Mendonça.

Tinha este ilustríssimo Cavalheiro estudado em Paris e comunicado naquela Corte e na cidade de Catalunha com Religiosos deste Santo Instituto; e depois que a divina Providência o elevou à categoria de Arcebispo de Évora, que foi pelos anos de 1587, saudoso do grande exemplo e edificação daqueles Monges, empreendeu trazê-los para mais perto e que no fértil jardim de Portugal florescessem também aquelas cândidas virtudes.

Para este efeito escreveu a França ao Padre geral ou Grão Prior de toda a Ordem Cartuxa, que era então D. Jerónimo Marchant, que lhe assignasse Religiosos para virem fundar em Portugal. Deu este essa incumbência ao Prior da Casa de Scala Dei, que existe em Morea, Arcebispado de Tarragona e se chamava D. Luís Telmo, sujeito de grandes prendas e virtudes, o qual, com título de Prior veio para este Reino, trazendo por companheiros os Padres D. Jerónimo Ardio e D. Francisco Monroi e aos Conversos Frei Silvestre, Frei João Vellis e Frei Paulo.

Chegados a Évora, foram hospedados nos Paços junto a S. Francisco em dia de Natividade de Nossa Senhora do ano de 1587, onde estiveram quase onze anos em forma de Convento, aceitando Noviços e exercendo as mais obrigações da religião, enquanto se não punha capaz e pronto o sumptuoso Convento que o Arcebispo lhes mandara edificar, para o qual se mudaram a 15 de Dezembro de 1598.

A fundação da outra casa de Laveiras teve seu principal motor no Ilustríssimo D. Jerónimo de Ataíde, filho dos condes da Castanheira, Capelão Mor del Rei Filipe II e depois Bispo de Viseu, o qual, propondo esta fundação ao Capítulo Geral, deu este plena comissão ao Venerável D. Luís Telmo para admiti-la.

Veio ele a Lisboa conferir este negócio com o Bispo, o qual, dando-lhe umas casas que tinha no sítio da Pampulha, mandou o Padre Luís fazer uma Capela, onde se celebravam os Divinos Ofícios; porém, por falta de assistência não se pôde adiantar a fábrica.

Vendo os Religiosos o embaraço que havia para se aumentar o edifício, trataram de se mudar para uma quinta de Laveiras, termo de Lisboa, no ano de 1598, a qual tinha sido de D. Simoa Godinha, mulher de cor preta, mas mui rica, nobre e principal da Ilha de S. Tomé, com quem casara certo fidalgo Português e, vindo para Lisboa, havia ficado viúva e sem sucessão. Distribuindo os seus bens em obras pias, deixou a quinta de Laveiras para se fundar um Convento de Frades pobres a arbítrio da Mesa da Misericórdia.

Existiram muito empenhos, porque cada uma das Religiões mendicantes a pretendia, até que el Rei Filipe II alcançou de Roma licença de transacção para os Padres da cartuxa e a confirmação de um censo de cem mil réis, que todos os anos pagava a Coroa à dita Dona Simoa.

Com esta mercê foi crescendo a fundação e vieram os Fundadores da Cartuxa de Évora. No ano de 1612, sendo eleito Prior dela D. Basílio de Faria, adiantou muito esta fábrica; e no ano de 1736, sendo Prior D. Luís de Brito, fundou nova e excelente Igreja em sítio mais alto, correspondente ao plano do novo claustro, que tinha feito o Cardeal Sousa, em cuja obra tem gasto mais de sessenta mil cruzados extraídos de esmolas, que a sua zelosa diligência e virtude, acompanhada de um raro atractivo dos animos, tem granjeado em grande aumento da Religião e culto Divino.

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