sábado, 22 de janeiro de 2011

História: Convento de Jesus em Setúbal III (imagem 1860)


História


Setúbal

Convento de Jesus em Setúbal

III

Imagem 1860



Da já citada historia manuscrita d'este convento, extraimos a seguinte noticia das obras que n'ele mandou fazer el rei D. Sebastião, e a narrativa do conceito em que tinha as freiras, como singelamente conta a religiosa cronista sóror Leonor de S. João.

«Na era de 1561, em cortes, renunciou a rainha D. Catarina (viúva de D João III) o governo que se deu ao infante e cardeal D. Henrique, seu parente e cunhado, o que obrou com muita satisfação dos povos e pobres, entrando no numero d' eles as religiosas d este convento, recebendo mercês e esmolas eguaes ás dos reis seu pae e irmão. E na mesma era, o rei, menino de sete annos (D. Sebastião) assignou um alvará para não pagarem coima os bois e mais animaes d'este convento; e na era de 1566, por outro alvará deu liberdade para se ir buscar toda a lenha necessaria á sua coutada da Murta, mandando ao couteiro a désse. Por outro alvará concedeu que podessem mandar buscar toda a pedra para as obras, da que vem por lastro nas embarcações que portam n' este rio; e assim deu outros poderes para que das condemnacões da taxa dessem a este convento certo numero de esmolas, obrigando por outro, aos ofíiciaes da alfandega, cumpram o que mandou sobre esta taxa. Confirmou e assignou os alvarás e provisões que atrás fica dito de seus antecessores; deu peças de valia e ornamentos para a igreja vestuário, ás religiosas e servos de fóra, pagando fisicos, botica, e tudo o mais necessario com a liberalidade de seus antepassados. E mais queria dar ao convento ordinárias cada ano, o que as freiras não aceitaram, para com mais perfeição guardarem a pobreza; ainda que para isso foram constrangidas dos prelados e confessores.

Mandou mais o dito rei, á sua custa, refazer a casa do ante-coro, que estava repartida em três mui escuras, as quais se fizeram n'uma muito formosa de duas naves, com quatro arcos de pedraria, pintado o tecto com santos da nossa ordem, a escada mui larga de duas voltas, de tabuleiro espaçoso feito de pedraria cercada de grades de ferro pintadas, e os maineis. O que mais ilustra a obra é um Cristo Crucificado do tamanho de um homem, de grande devoção, em uma capela e altar, com que fica tudo perfeito, e três formosos arcos de pedraria que fazem volta ás portas do convento; feito tudo á custa del-rei, o qual desejando entrar no convento, o não fez, parecendo-lhe causar algum modo de inquietação ás religiosas.

Á igreja vinha muitas vezes, mandando pedir o abençoassem ao entrar da porta; e ao sair d'ela, olhando para a grade algumas vezes, sorria-se, outras limpava as lagrimas que com devoção chorava. Assim lhe acontecia quando recebia algum mimo, juntamente com pão mole, que costumava pedir, o punha nos olhos, e beijando-o mandava o guardar, dizendo que era só para ele o pão das suas freiras santas. E assim as nomeava sempre, não consentindo cair no chão uma bonina das que lhe mandavam, e á que lhas levava festejava com palavras d'amor e agradecimento.

Achei mais escrito, que indo uma vez ao convento de Palmela, se não quiz sentar a jantar, até lhe não mostrarem janella d' onde visse este nosso; e levado a ella disse com grande alegria:« Já vi o meu convento de Jesus, vamos á mesa.» E assim se diz, que quem o queria agradar, falava-lhe n'esta casa, e na fama da sua religião, do que recebia sumo contentamento. Mas por justos juízos de Deus, permitiu carecesse este reino do gosto que tinha em possui-lo, e que fosse mais inclinado ás armas, e outros bons e catolicos costumes, que a procurar sucessão no reino. Todos seus intentos pos em conquistar os mouros, o que cometeu em vida da rainha sua avó, chegando ás fronteiras de África, aonde vendo sua pouca companhia e muitos dos inimigos,, por conselho de soldados velhos se tornou a Portugal, voltando lá depois para nunca mais regressar.»

Tem este convento muitas relíquias de fama; porém a de mais estimação para as freiras, é o cranio de uma das cinco mil virgens, com que as presenteou o celebre duque de Alva, quando invadiu Portugal em 1580. Não sabemos se esta relíquia tem autentica, mas sim que o general castelhano era muito capaz de a forjar.

Mais sobre o Convento de Jesus em Setúbal aqui em Antikuices


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