História
Tomar em 1755
Comarca de Thomar
Esta notável Villa (Tomar) teve antigamente outro assento não longe do que agora tem, e outro nome, porque foi conhecida com o de Nabancia, situada da outra parte do rio Nabão, para o Oriente. A primeira memoria, que se acha della (Tomar), é pelos anos 653 de Christo, em que padeceo nella (Tomar) glorioso martyrio a bem aventurada S. Eiria, em cujo tempo dominava um régulo chamado Castinaldo com subordinação aos Reys Godos, que possuiram todas as Hespanhas. Na invasão dos Mouros foy destruida Nabancia, e permaneceo deserta até que o anno de 1159 ElRey Dom Afonso Henriques fez doação daquella terra aos Templários, os quaes a povoaram no lugar que hoje occupa, a saber, em trinta e nove gr. e quarenta minutos de latitude e dez e cinco minutos de longitude, vinte e duas legoas distante de Lisboa.
Tem duas Igrejas Parochiaes ambas collegiadas. Na primeira que era Convento de Relígiosos de S. Bento, quando Santa Eiria alcançou o martyrio, e tem por orago N. Senhora da Assumpção; jazem (Tomar) sepultados todos os Mestres dos Templários (Tomar) desde D. Gualdim, que foy o primeiro em Portugal, até D. Lourenço Martins, em cujo tempo pelos annos de 1308, foy extinga esta Milícia, presidindo na Igreja de Deos o Papa Clemente V.
A segunda Freguesia he da invocação de S. João Bautista, em cujo districto está o Convento de Franciscanos Obsevantes da Província de Portugal, fundado em 1635. Tem mais hum Convento de Religiosas Franciscanas que tem por orago a S. Eiria, fundado em 1476, e outro de Capuchos da Província da Piedade, casa de Misericordía (Tomar) e Hospital (Tomar), e outros muitos edifícios particulares que ennobrecem esta Villa e os seus moradores.
Na parte mais eminente della (Tomar), da banda do Occaso está o famoso Convento cabeça, e baliado da Ordem de Cristo (Tomar), cuja maravilhosa fabrica em grandeza, custo e architectura mostra bem que foy empenho dos Senhores Reys D. Manoel, D João o III, D. Sebastião, e de dous Filipes. Todos os Monarchas dotarão de tantas rendas, privilegios, izençoens, e mercês, que he das cousas grandes, que ha no Reyno, e em toda a Chistandade. Antigamente tinha Freires Clerigos, mas ElRey D. João o III, o reduziu a Ordem regular, em que hoje se conserva. O seu Prelado tem o título de D. Prior de Thomar, e Geral da Ordem de Chrísto, do Conselho de S. Magestade, e nas Cortes tem assento com os Prelados do Reyno.
A fabrica material he de tanta capacidade, que pode hospedar dous Reys com toda a sua comitiva, sem que grandes hospedes incommodem os Religiosos do Convento. Nelle celebrarão Capitulo geral e Cortes os Reys João III, D. Felippe II e III, e ElRey D. Sebastião. Os D. Priores presidem nos Capítulos geraes, quando não assiste EIRey como Grão Mestre, e quando elle está presente occupa o primeiro lugar á mão direita. Tem tido vinte e quatro Prelados illustres em santidade e letras.
A Ordem de Cristo teve principio na extinção da dos Templários (Tomar) e dos bens que ficaram delles, impetrou ElRey D. Dinis Bullas de confirmação da Ordem que instituia de nosso Senhor Jesus Cristo, o que com efteito concedeo o Papa João XXII em quatorze de Março de 1319. O primeiro Mestre que teve, se chamou D Gil Martins, que no seu Convento de Tomar sem pompa alguma no sepulcro pelo ordenar assim no seu testamento. Esta esclarecida Milicia he hoje das mais ricas que tem a Christandade; passam de quinhentas as Commendas, e Alcaidarias móres, que se dão com seu habito não havendo casa illustre no Reyno que se não distinga com esta preciosa insignia. As rendas chegam a quatrocentos mil cruzados, e por este computo se pode ver quanto excede ás outras Ordens Militares que ha dentro das Hespanhas, e que não ha muitas nos Reynos estranhos que possam entrar á comparação com esta illustrissíma e poderosa Milicia, de quem Sua Magestade por Bullas Apostolicas he perpetuo Grão Mestre e Administrador, e nesta qualidade governa o espiritual desta Comarca por hum Ecclesiastico que toma a titulo de Prelado da jurisdicção quasi Episcopal da notável Villa de Tomar, e de todos os vassallos e terras adherentes da Ordem Militar de nosso Senhor Jessu Christo.
O governo civil da Villa (Tomar) corre por conta de hum Ouvidor que entra em correição em quarenta e oito Villas, de que se compoem o Mestrado. O termo delle, e da Villa (Tomar) capital he fertilissimo de frutas, vinhos, azeite, pão, caças e peixe, que lhe vem do Tejo, do Zezere, e do mar Oceano, de que resulta ser muito povoado, pois passam de duzentos os lugares, de que se compoem as onze Freguezias, se contam no termo de Thomar, com oito mil seiscentos e quarenta e três pessoas mayores, todos ricos a beneficio da cultura da pingue terra, que habitam e fabricam. Na Comarca (Tomar) se contam secenta e oito Freguesias (Tomar), vinte mil fogos, setenta mil almas, vinte e seis Villas, das quaes Abrantes tem voto em Cortes com assento no banco nono e os Conventos seguintes:
S. Cita Convento de Recolletos Franciscanos termo de Tomar.
Nossa Senhora do Loreto Convento de Capuchos Franciscanos da Província de S. António no termo de Payo de Pelle.
Nossa Senhora da Consolação Convento de Religisos Dominicos de Abrantes fundado em 1472.
S. António Convento de Capuchos Piedosos da mesma Villa (Abrantes) fundado em 1526
Nossa Senhora da Graça de Religiosas Dominica da mesma Villa (Abrantes) fundado era 1384
Nossa Senhora da Esperança de Freiras Franciscanas da mesma Villa.
Nossa Senhora da Luz Convento de Domínicos no termo do Pedrógão grande.
O Convento de Carmelitas descalços de Figueiró dos Vinhos.
Nossa Senhora da Confolação de Religiosas de S. Francisco da mesma Villa (Figueiró dos Vinhos) fundado em 1549.
Nossa Senhora da Charidade Convento de Franciscanos da Provincia da Piedade do Sardoal.
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Descripçam corografica do reyno de Portugal, 1755
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